Sua obra era carregada de brincadeiras com as palavras e elementos da natureza, valorizando o que passa despercebido no cotidiano
Foto: Marcelo Buainain
Manoel de Barros é o poeta das pequenas coisas. Mas que por serem pequenas, não são irrelevantes. É o poeta do chão, das miudezas, da terra. Como ninguém, sabia brincar com as palavras, dar novos sentidos e sentimentos a elas. Todo o seu trabalho, agora, ganha uma homenagem em uma exposição este mês em São Paulo.
A “Ocupação Manoel de Barros” acontece no Itaú Cultural, na Avenida Paulista, tem entrada gratuita e vai até o dia 7 de abril de 2019. Martha Barros, filha do poeta, é a responsável pela curadora da ocupação, com o apoio da equipe do Itaú Cultural. Será possível ter acesso a pequenos papéis, livros e rascunhos do poeta, que emocionaram até a própria Martha quando descobriu alguns deles pela primeira vez.
O rio que fazia uma volta
atrás da nossa casa
era a imagem de um vidro mole…
Passou um homem e disse:
Essa volta que o rio faz…
se chama enseada…
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás da casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
Para quem lê pela primeira vez as poesias de Manoel de Barros, pode achá-las infantis, simples demais. Mas é na simplicidade que se esconde a profundidade de sua obra. Nascido em Cuiabá, no Mato Grosso, o poeta viveu a maior parte de sua vida em Campo Grande. O contato com a natureza sempre foi importante para o autor e tema recorrente de seus escritos, sendo chamado de “poeta pantaneiro”.
Sua poesia se relaciona com a sociedade em que vivemos hoje, podendo ser vista como uma crítica à rapidez e ao excesso de informação e consumo. Suas palavras que falam do canto dos pássaros, de uma lesma ou do curso de um rio são como um respiro em meio à sociedade barulhenta e um convite a observar as miudezas, voltar-se para a terra, para o que recebe pouca atenção.
Trecho de entrevista dada por Manoel de Barros a Martha Barros, sua filha, em 1986
TRATADO GERAL DAS GRANDEZAS DO ÍNFIMO
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.
Desenho de Manoel: O Guardador de Água. Foto: Arquivo Pessoal
ALÉM DA EXPOSIÇÃO
Além da exposição em si, haverá também oficinas de encadernação, aos sábados (9, 16 e 23) e domingos (10, 17 e 24) de março, sempre às 14h, com distribuição de senhas meia hora antes. A oficina é uma forma de celebrar o hábito que o poeta mantinha de construir os seus próprios caderninhos de rascunhos.
Se você não poderá comparecer à exposição mas ficou com vontade de conhecer mais a respeito de Manoel de Barros, deixamos a dica do documentário “Só dez por cento é mentira”, dirigido por Pedro Cezar.
VAI LÁ: OCUPAÇÃO MANOEL DE BARROS
Terças-feiras a sextas-feiras, das 9h às 20h (permanência até as 20h30)
Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
Itaú Cultural: Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô.
Saiba mais informações sobre a Ocupação Manoel de Barros no site do Itaú Cultural.