O trabalho manual da ONG ‘Lucianas e Marias’ foi uma forma de Luciana ajudar a si mesma e a outras pessoas
A arte tem um papel fundamental nas nossas vidas. Ela já foi tema de filmes, músicas e palestras, mas o fato é que ninguém explica a arte. Geralmente, ela nos toca porque reflete as coisas intangíveis, aquilo que sentimos com o coração. E não poucas vezes, a arte também nos salva, seja quando nos deparamos com o trabalho de outra pessoa ou quando a descobrimos em nós mesmos.
Assim aconteceu na vida de Luciana Cortez, fundadora da ONG Lucianas e Marias, em Curitiba. Desde 2015, ela dedica o seu tempo a ensinar outras “Lucianas e Marias” a fazerem tricô e crochê. Esses dons foram resgatados na memória da infância como uma atividade contra a depressão e o pânico, desenvolvidos após um episódio de sequestro relâmpago que marcou sua vida há seis anos.
A garagem de casa virou, no improviso, o atelier onde começou a ensinar. Luciana costumava colocar ali a sua cadeira para fazer seus trabalhos e isso se tornou uma vitrine atrativa. Uma jovem que tinha vontade de aprender a tricotar perguntou se a moça dava aulas e após o sim de Luciana, as aulas começaram a se tornar realidade, atraindo mais pessoas a cada dia.
Assim, Luciana passou a se dedicar a ensinar outras mulheres, compartilhando e ao mesmo tempo redescobrindo esse amor que ela tinha pelo trabalho manual. E logo as aulas se expandiram para algo maior, que veio a ser sua ONG, com a qual desde 2015 ela leva suas aulas de crochê para postos de saúde, escolas, eventos, associações de moradores e outros locais públicos.
Ao longo desses três anos, já foram mais de mil alunos e oito unidades de saúde a contarem com aulas fixas, de acordo com Luciana. O aprendizado do tricô e do crochê estimulou a comunidade e outros artesãos e artesãs passaram a oferecer aulas daquilo que sabiam fazer. Os alunos então passaram a conhecer diversos tipos de arte e contavam com novidades de tempos em tempos.
Todas as atividades ministradas pela ONG nos postos de saúde são de forma gratuita e Luciana ensina também em aulas particulares. O começo foi um pouco difícil, foi o investimento em um sonho que estava mudando sua vida. Ela conta que precisou investir dinheiro do seu bolso em alguns momentos para garantir que os trabalhos pudessem acontecer.
“Eu comprava todo o material para eu fazer minhas peças e já dividia com todo mundo, porque isso estava trazendo uma espécie de cura para o meu problema psicológico. O dinheiro que antes gastava com remédio estava sendo reduzido e utilizado em material”, reflete.
Nas duas ocasiões, a aprendizagem do artesanato se torna uma fonte de aprendizado e de renda familiar para quem faz as aulas com ela. Integração comunitária, estímulo da criatividade e do empreendedorismo são alguns dos benefícios que Luciana aponta como reflexo de seu trabalho. “Baseado na pedagogia Waldorf, usamos o crochê e o tricô para estimular a criatividade nas crianças e jovens e também combater a ansiedade e depressão nos participantes”, explica.
Talvez o mais importante em toda essa jornada para Luciana tenha sido a conexão que ela desenvolveu com outras pessoas. Ela diz que essa troca a ajudou a enxergar o mundo de uma forma diferente. “Uma pessoa não consegue atravessar uma enchente se não for segurando a mão do outro”, conclui.
As aulas de crochê e de tricô também se tornaram um refúgio de carinho para outras mulheres. Luciana relembra a história de uma aluna que ficou alguns dias sem ir às aulas. O grupo sentiu falta dela e resolveu fazer uma visita em sua casa. Descobriram que a jovem estava enfrentando problemas familiares e dificuldades com o próprio corpo, que a levaram a escrever uma carta de suicídio.
Mas a visita do grupo a fez perceber que ali havia um grupo de carinho que se importava com ela e que foi uma força que a ajudou a atravessar esse período turbulento. E todas essas histórias de superação são registradas em um livro escrito por Luciana e todas as suas alunas, contando o dia a dia das Lucianas e Marias.
Se você mora em Curitiba, pode ajudar a ONG como voluntário (a) para atuar nas unidades de saúde que já recebem o projeto. Não é preciso conhecimento prévio no feitio de artesanato.
Outra maneira de ajudar a instituição é com doações de EVA, cola instantânea, tinta para tecido (ou qualquer outro tipo de tinta), tesouras, agulhas, barbantes, material para bordado, lã e pincéis.
Saiba mais pelo Facebook da ONG Lucianas e Marias ou fale com a Luciana Cortez pelo telefone (41) 99616-1505. Lindo trabalho!