Pequenas revoluções no mundo editorial feitas pelo designer Gustavo Piqueira
Cecilia Arbolave é jornalista freelance e sócia da editora independente Lote 42. De Buenos Aires, ela chegou em São Paulo há cinco anos e conseguiu descobrir cores na cidade cinzenta. Gosta de escrever sobre arte, design, arquitetura e decoração.
Livros: Design, Arte ou Direção de Arte? Esse era o nome da palestra do Gustavo Piqueira no Instituto Europeu de Design, em agosto de 2013. A pergunta foi repetida várias vezes nos slides da apresentação, porém ficou sem uma resposta concreta – ou melhor, ficou com uma resposta aberta. Em vez de um discurso acadêmico, Piqueira optou por um caminho mais solto e criativo. Ele mostrou diferentes trabalhos e deixou que cada um elaborasse sua própria resposta.
Se você não conhece o Gustavo Piqueira, saiba que ele é designer (com mais de 200 prêmios embaixo do braço), mas não só isso. É também escritor e ilustrador. Criativo seria uma forma de chamá-lo, pois da cabeça dele saem projetos incríveis e diferentes. Está à frente da Casa Rex e, nas horas vagas, faz livros que, assim como ele, são difíceis de encaixar em uma categoria específica.
Livros: Design, Arte ou Direção de Arte? “Não sei. E a pergunta não me atormenta”, falou logo no começo da palestra. “Design não é o meio, não é o fim. Design é diálogo. Cada projeto é uma possibilidade de se aproximar a um assunto de uma forma diferente.”
“Meu propósito de vida é fazer coisas que não sejam adequadas”. Após soltar essa frase, mostrou a capa do livro Marlon Brando: vida e obra por Gustavo Piqueira. Falou sobre como estamos acostumados a fazer coisas redundantes: em capas de biografias, por exemplo, colocamos a foto do biografado e o nome dele na capa. E por que não ir por um caminho diferente?
Foi por isso que no seu livro, em vez de Marlon Brando, colocou uma foto do James Dean, uma sacada que nem todo mundo entendeu – aliás, muita gente achou que tinha sido um erro. E só pra você saber, o livro não é sobre o famoso ator, mas de um tal de Marlon Brando de Alvinópolis.
“Design não pode ser simplesmente um suporte com fonte, capa e projeto adequado”, disse Piqueira ao apresentar a coleção Ideias Vivas, uma série de livros de filosofia com uma proposta mais contemporânea.
Para o projeto gráfico, pediu o portfólio de estudantes de fotografia e selecionou seis: assim, cada livro é ilustrado com fotos de um mesmo profissional.
“As narrativas visuais estão propositalmente desconexas dos temas dos livros”, explicou. Nas capas, colocou frases marcantes em destaque e, em fonte menor, o nome do filósofo. O visual de cada uma ficou diferente, porém mantendo a noção de série. Dessa forma ele fugiu do lugar comum das coleções, que deixam todos os volumes completamente iguais.
Conforme a apresentação avançava, o público conhecia mais e mais projetos do Piqueira, em que ele tinha ido além. Fiquei com a sensação de que ele está aqui para nos mostrar que dá para fazer pequenas revoluções no mundo editorial.
E ele não vai parar por aí. O Seu Azul, um dos mais novos livros, saiu em outubro pela Lote 42. Não vou contar mais para não estragar a surpresa. Entre no site e saiba mais!