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Xilogravura, Cordel, Movimento Armorial: União entre passado e presente se complementam no trabalho do pernambucano Perron Ramos

Ao observar a obra do pernambucano Perron Ramos, percebemos nitidamente o diálogo entre a técnica tradicional e linguagem contemporânea.

Além de artista plástico, o morador da cidade de Recife de 31 anos também exerce as funções de designer gráfico e ilustrador, e desenvolve seu trabalho com o apoio de três bases: A Xilogravura, que é o resultado da técnica de transferência de imagens a partir de um entalhe feito em madeira; o Cordel, que é a tradicional modalidade de poesia impressa, e o Movimento Armorial, corrente artística conhecida por sintetizar elementos e figuras populares nordestinas.

Seu trabalho atual teve início durante um projeto de conclusão de curso, e se intensificou após Perron observar a defasagem do uso das técnicas e temáticas populares nordestinas entre artistas contemporâneos.

As três bases que orientam sua criação também nortearam a criação do Estilo Xilo, um projeto artístico criado no ano de 2014 que visa enaltecer a cultura do nordeste brasileiro.

Seu trabalho consiste em agregar um status contemporâneo à estética regional, e com uma identidade muito particular ele transfere essa temática tão característica à novas superfícies, como colheres e tábuas de madeira, pratos e garrafas.

Essa linguagem também é amplamente explorada em uma das vertentes do seu trabalho, que consiste em recriar famosas obras de arte a partir da estética nordestina.

A variedade de objetos onde o pernambucano imprime suas obras demonstra a liberdade criativa do artista. Inclusive, alguns dos objetos que ele utiliza como base para receber suas gravuras seriam descartados, mas tem sua função ressignificada com as ilustrações de Perron Ramos.

O FTC conversou com o pernambucano, que se prepara para sua primeira exposição prevista para outubro de 2018, onde irá transpor às telas uma leitura regional da obra de seus artistas favoritos. Confira:

ENTREVISTA PERRON RAMOS

FTC: Como você preenche atualmente sua bio nos diversos sites e redes sociais em que participa?

Perron Ramos: Sempre como um artista regional que agrega os elementos, traços, formas, elementos e cores do nordeste juntamente com a culinária que aprecio tanto.

FTC: Como surgiu sua relação com a arte que você desenvolve atualmente?

Perron: Foi através do projeto de conclusão do meu curso de Design Gráfico na faculdade, que criei um projeto de sinalização para a Casa da Cultura de Pernambuco, no qual utilizei a linguagem visual com base na xilogravura.

Pouco depois, ainda na faculdade, percebi que não tinha nas redes sociais algo que juntasse a xilogravura, cordel, poema e humor nordestino de forma mais centralizada e com uma identidade estética. Foi quando eu criei a Estilo Xilo, que utiliza a estética da xilogravura para ilustrar a linguagem da cultura nordestina.

FTC: Como surgiu a ideia de fazer uso de objetos cotidianos para imprimir sua arte?

Perron: De mostrar que a xilogravura também pode ser algo contemporâneo e ser impressa em diversas superfícies, saindo do que estamos acostumados ver como algo rústico, quadrado e limitado a gravuras. A principal ideia é fazer com o que a estética da xilogravura possa ser utilizada em diversos ambientes e classes sociais agregando essa regionalidade de forma diferenciada e original.

FTC: Pode contar pra gente um pouco do seu processo criativo no dia a dia?

Perron: Eu sempre começo o meu dia escutando música, fazendo um café e cuidando das plantas. Antes de começar algo, eu sempre vejo outros artistas pra buscar referências das mais diversas para agregar ao meu trabalho ou algo que eu tenha que criar. A música ajuda demais no meu processo.

FTC: O seu trabalho segue uma linguagem muito tradicional. Como é trazer essa linguagem tão clássica para um trabalho contemporâneo? 

Perron: Transformar algo tradicional em algo atual é muito gratificante. Quando as pessoas também começam a observar isso de outra forma e entender que se pode fazer varias coisas com algo tão simples aos nossos olhos. Quando isso acontece eu sei que estou trazendo essa linguagem visual para o momento que estamos vivendo hoje.

Eu acredito que o olhar que tenho para as coisas que são tão corriqueiras para os nordestinos, uma forte influência do surrealismo, peças diferenciadas e superfícies diferenciada, acaba diferenciando de forma positiva o que vinha sendo feito.

FTC: O que tem lido, ouvido, visto, e quais são os seus artistas ou demais referências preferidas no momento?

Perron: Leio muito livros de amigos escritores que conheci através da internet. Atualmente eu estou lendo o livro “O que faço com a saudade” de Bruno Fontes e eu estou sempre lendo o livro de Braúlio Bessa, “Poesia com Rapadura” que eu tive o prazer de ilustrar.

Vejo muita coisa e imagens na internet para inspiração como o Pinterest. Embora não pareça, devido ao trabalho regional que faço, escuto muito heavy metal (risos), então, bandas do estilo estão sempre na minha playlist. Sempre acompanho artistas dos mais variados estilos e isso acaba me influenciando de alguma forma. Mas os meus artistas preferidos são Jefferson Campos, Bozo Bacamarte, Renato “Catita” e CIel Santos com a sua poesia musical.

Acompanhe o trabalho de Perron Ramos através do Instagram e também o site do artista com o projeto Estilo Xilo.

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