Natália e Eduardo dão vida à madeira através dos personagens lúdicos da Popoke. Confira entrevista
Usando elementos naturais como a madeira e o tecido, Natália e Eduardo, os criativos por trás da Popoke, dão forma à sua imaginação através da criação de personagens inspirados no universo fantástico da mitologia e da ficção científica.
Naturais de São Paulo capital, Natália tem 34 anos e Eduardo tem 42. Quando se conheceram ela trabalhava com efeitos especiais para o cinema e ele já atuava no campo das artes plásticas, e ambos dizem que o amor à arte e ao fazer manual uniu suas trajetórias em uma nova rota.
A relação do casal surgiu junto com a Popoke, no final de 2016. Atualmente eles vivem e trabalham em sua casa, na zona sul da cidade de São Paulo, onde estão há três anos.
E é nesse espaço em que a madeira vira obra de arte. Desde os primeiros esboços à obra final, todos os processos que envolvem a criação dos seres fantásticos são feitos artesanalmente pelos dois em sua casa/oficina.
O resultado desse trabalho de ressignificação de madeiras nobres é classificado por eles como “um mergulho no imaginário para recriar a realidade”.
POPOKE, ARTE PARA ADULTOS E CRIANÇAS
As peças começaram como brinquedos e com o passar do tempo foram se transformando em objetos artísticos. Mas ainda assim continuam agradando adultos e crianças. “A Popoke revive a nostalgia dos antigos brinquedos para os adultos e abre novas possibilidades para as crianças. Brincando, elas aprendem a achar soluções para problemas, a conviver com o diferente, a inventar, criar, colaborar, pesquisar, e a ter um olhar criativo”, eles dizem.
A palavra Popoke vem do tupi-guarani, e significa peteca. Os criadores dizem que, assim como uma peteca, a proposta deles é jogar para o alto uma brincadeira que seja inteligente e que mantenha uma ligação com a natureza: “Gostamos da ideia de que nossos brinquedos possam durar gerações, sendo assim desassociados de tempo e espaço”, complementam.
Atualmente eles comercializam suas peças através do instagram, e acreditam que o seu trabalho em conjunto tem o potencial de resgatar memórias e de reviver a brincadeira com espontaneidade, simplicidade e criatividade. A dupla considera a Popoke como uma “expressão máxima do seu sentir e viver”.
ENTREVISTA POPOKE
A Natália respondeu algumas perguntas sobre o dia-a-dia do casal criativo da Popoke. Acompanhe a seguir em entrevista exclusiva.
FTC: Gostaríamos que nos contassem com mais detalhes como vocês se conheceram e começaram a produzir juntos.
Natália: Eu trabalhava na produção de uma peça de dança e precisava de um cenotécnico para desmontar o palco, foi aí que me indicaram Edu. Ele trabalhava com pintura artística, eu fazia assistência de direção e efeitos especiais no cinema e na publicidade. Como estávamos inseridos nesse universo artístico, nossas conversas fluíam em compartilhar nossas paixões particulares. Logo percebemos que nossos planetas estavam alinhados e surgiu a vontade de produzir juntos.
Edu me apresentou sua paixão pela madeira. Conheci sua oficina e, diferente de muitos casais, nossos encontros eram pra produzir. Logo vieram experiências dentro do universo da madeira e dos personagens fantásticos, tradicionais e lúdicos. A princípio estudávamos sobre a Bauhaus, as tradicionais kokeshis japonesas e brinquedos inteligentes, daí surgiu a vontade de produzir brinquedos. Com o tempo percebemos que queríamos ter mais liberdade para produzir objetos artísticos e personagens complexos, que já não eram mais brinquedos, mas ainda carregavam com eles o universo lúdico.
FTC: Qual foi o momento “a-ha”, o estalo, para começarem a criar os personagens?
Natália: Os desenhos iniciais já eram um robô, monstros e naves. Não houve um planejamento, eles foram acontecendo e começaram a ganhar nome. Até mesmo durante o processo, dentro da nossa criação, eles já tinham características e personalidade.
FTC: Como surgiu a relação de vocês com a madeira?
Natália: A história da madeira é herança da família do Edu. O bisavô dele era carpinteiro e ele herdou do seu tio parte da oficina que temos hoje.
Nós não somos nem carpinteiros, nem marceneiros. A madeira é o suporte para o nosso trabalho artístico. Nosso desafio é encontrar soluções para tirar nossos desenhos do papel e transformá-los em 3D.
FTC: Vocês podem contar pra gente um pouco do processo criativo no seu dia-a-dia? Como nasce um novo Popoke?
Natália: O Popoke nasce da fusão das nossas ideias. Edu inicialmente gostava muito de robôs e por isso já tivemos uma primeira coleção grande, com muitas referências como animações da década de 60, 70 e Star Wars. Já eu sempre fui louca por monstros, e com essa miscelânea de referências fantásticas saíram os primeiros desenhos.
Hoje em dia alguns personagens saem diretamente do 3D. A partir do momento que fomos experimentando a junção das madeiras foi ficando claro como sairia essa junção depois de torneadas. No momento estamos criando uma série de robôs que provavelmente serão limitados e alguns monstros também estão a caminho.
FTC: O que dá mais prazer no trabalho de vocês? E o que dá menos?
Natália: Sem dúvida a parte de criação é a que dá mais prazer pra gente. Adoramos também investigar novas madeiras e novas combinações. Pra nós a variedade de madeira é fundamental, pois são elas que nos dão possibilidade de criar tantos padrões.
Essas madeiras são joias deslocadas que encontramos em caçambas da cidade de São Paulo. Parte delas também é doada por pessoas ou por algumas pequenas fábricas de móveis de madeira maciça. Hoje em dia também compramos madeiras de alguns lugares, sempre com FSC (Certificado de fontes mistas) e com a segurança de que elas vêm de uma fonte legal.
A parte do acabamento de cada peça também é um momento incrível, é onde a madeira revela sua beleza! O óleo e a cera revelam toda a potência das madeiras selecionadas. O que dá menos prazer sem dúvida é a parte burocrática.
FTC: Quais são as inspirações por trás do projeto?
Natália: Nossas inspirações por trás do projeto são o mundo lúdico, a literatura fantástica, a natureza, formas arquitetônicas e até mesmo caixas d’água. Antigamente tínhamos muita referência de outros artistas, mas hoje em dia quase tudo pode ser inspiração para o nosso trabalho, de uma mancha na parede ao formato de uma árvore, um carro ou um inseto.
FTC: O que desejam passar para o público?
Natália: A verdade é que não existe um objetivo em passar algo para o público, Isso acontece naturalmente, sem um cálculo, entende? Para nós é incrível a resposta do público porque ela sempre tem a ver com o resgate de uma memória, tem a ver com leveza, sorriso. É importante lembrar que os Popokes não são brinquedos e sim objetos artísticos, e o mesmo objeto pode estar dentro do quarto de uma criança até o escritório de um empresário. São atemporais.
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