Ela é argentina, mas mora há bastante tempo em São Paulo. A ilustradora Eva Uviedo trabalhou por 15 anos com projetos digitais, mas para desenhar, sempre preferiu à moda antiga: canetas, pincéis, aquarelas, café. Desde 2007 ilustra livros, revistas, capas de discos. Eva tem em seu currículo, inúmeros trabalhos incríveis, como os livros da escritora Clara Averbuck, aquarelas de Queria Ter Ficado Mais [Lote 42], a série de guias Como Viver em SP sem Carro, além de colaborações para revistas e jornais como Folha de S. Paulo, Vida Simples, Casa Claudia, Casa & Jardim, Daslu Magazine, Itau Personnalitté, Gol linhas aéreas, Trip, Tpm, Prana Yoga Journal, Glamour, entre outras.
Cada vez mais, Eva tem desenvolvido um trabalho autoral fantástico. Sua mais nova série “Sobre amor & outros peixes“, por exemplo, ela usa os seres do mar como analogia para os diferentes tipos de sentimentos, nuances e sutilezas que envolvem os relacionamentos humanos: amor, dependência, carinho, dominação, paixão. “O amor pode ser um peixe dourado, um polvo, um tubarão, uma arraia que se finge inofensiva. As associações são infinitas e ficam a cargo de cada um. O amor não é fácil de explicar.”
Atualmente, o conceito de seus símbolos se desdobra em prints em fine art e pinturas sobre porcelana. Eva apresenta um trabalho com técnicas diversas sobre pratos garimpados em brechós, feiras de antiguidade e garage sales. Além disso, seus personagens marítimos estarão presentes em um novo livro em co-autoria com a escritora Clara Averbuck a ser lançado em novembro, Toureando o Diabo.
Conversamos um pouco com a artista para saber um pouco mais sobre suas inspirações:
FTC: Eva, queria que você falasse um pouco sobre você com as suas palavras e como chegou até a ilustração.
Sempre gostei de desenhar, mas na adolescência, apesar de já ter feito vários cursos de pintura, também gosto de escrever e estava fascinada pela possibilidade de fazer vídeos. O cenário no começo dos anos 90 era propício, produções experimentais e videoarte bombando, eu estagiava em uma produtora de documentários ligados a ativismo, então acabei optando pelo curso de Comunicação.
Depois veio a internet e eu passei 15 anos à frente do departamento digital da Trip Editora, onde me envolvia com tudo, de design à edição de texto e vídeo. E levava desenhos e pinturas em segundo plano, quase como um hobby. A partir de 2007 passei a levar mais a sério e começou a aparecer um monte de gente interessada. Fiz ilustras para várias publicações, revistas, discos e livros desde então.
Sendo geminiana, estava no meu elemento, pois fazia de tudo: jornalismo e tecnologia de dia, tintas e aquarelas à noite. Mas no ano passado, quando saí da Trip, senti que era o momento perfeito pra me jogar de cabeça em busca de um estilo próprio e uma arte mais autoral. Dei fim à crise de identidade e passei a escrever ‘ilustradora’ feliz da vida nas fichas de hotel.
FTC: Há quanto tempo cria as ilustras e quais materiais utiliza?
Os materiais com que me sinto mais à vontade são aquarela, ecoline, caneta-nanquim e café (acho que tem uma textura incrível). Mas tenho experimentado outros suportes, como pratos de porcelana, paredes e madeira crua, o que me força a trabalhar com materiais diferentes e achar estilos novos que funcionem pra cada um.
FTC: Qual a influência das cores nos seus trabalhos?
Nos meus trabalhos pessoais, uso basicamente preto, vermelho e branco. A escolha do vermelho como cor predominante não foi pensada, mas acho que tem um pouco a ver as teorias do designer americano Roger Black, com uma influência da arte japonesa do sumi-ê e bastante com a narrativa dos meus desenhos que sempre tem sangue, dentro das veias ou fora, corações, ira, paixão, sentimentos sempre associados com essa cor.
FTC: Está tocando algum projeto específico atualmente?
Estou trabalhando na série Sobre Amor & Outros Peixes, que trata dos seres do mar como analogia aos sentimentos: uns são suaves como peixe, outros agressivos como tubarões; uns são como arraias e parecem inofensivos, outros envolventes como um polvo. Todos naquele ambiente distorcido e envolvente como água do mar. E os milhões de simbolismos possíveis envolvidos pelo tema que já foi tratado em mitologia, filosofia etc.
É uma ideia que venho desenvolvendo desde 2009, e agora tomou mais forma e se desdobrou em diversos suportes, pratos, quadros e posters. Na verdade essa temática aparece em vários trabalhos que já fiz em parceria com outras pessoas, agora estou a fim de juntar tudo. Estou planejando para o ano que vem uma exposição e quem sabe uma publicação com toda a série.
Também acabamos de fechar o lançamento do livro Toureando o Diabo, que é uma co-autoria com a escritora Clara Averbuck, no dia 19 de dezembro (2015), no MIS, dentro da feira Jardim Secreto. Essa parceria com ela já vem de longe; antes desse fizemos um livro-arte, o Nossa Senhora da Pequena Morte, pela Editora do Bispo; também desenhei as capas das reedições de todos seus livros e alguns outros projetos.
Esse começou como algo simples, texto e meia-dúzia de ilustras, e evoluiu para um livro todo desenhado, escrito a mão, bastante caótico, complementando a narrativa. Como foi viabilizado através de crowdfunding, nos sentimos com liberdade total para algo bastante experimental. E claro, levei um pouco do universo marítimo da série para esse livro também; está cheio de meninas-polvo, tubarões, peixes e muito amor louco.
FTC: O que é arte para você e como você definiria a sua arte?
Procuro contar com imagens algo que não conseguiria fazer usando palavras. Eu sei o que elas representam de um modo bastante subjetivo, tento não pensar muito a respeito. E o que vale é o que as pessoas entendem. Fico muito feliz quando alguém diz ‘adoro esse desenho’ e fico pensando ‘o que será que ela entendeu, o que será que ela viu nessa imagem?’. Mas nem pergunto porque acho que não é algo pra tentar transformar em palavras mesmo.
FTC: Com o que você se inspira?
Com os mistérios da vida sub-aquática e teorias filosóficas variadas. O ser humano é um barato, está há pelo menos 5 mil anos tentando entender e explicar a vida, o universo e tudo mais, e cada dia parece mais longe de uma resposta – ainda bem.
FTC: 5 coisas que não consegue viver sem.
Eu tive uma infância bastante hippie, nômade; e em diversas outras ocasiões precisei abandonar tudo e começar do zero. Hoje tenho uma casa digna de aparecer no programa Acumuladores, mas às vezes penso que se tivesse um incêndio eu salvaria minha carteira de identidade e o iPod e tudo bem; o importante é ter saúde.
Mas entre as coisas que mais gosto na vida é de estar com pessoas queridas por perto, ir a shows, viajar pra praia e ficar olhando o mar. E faço isso sempre, ainda bem.
FTC: Uma frase da sua vida?
Love is hard to explain.
No Instagram: @evauviedo. No Facebook: /evauviedo. Tumblr evauviedo. Seu blog: esquizofasia.
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