Projeto ‘Chão que eu piso’ reúne fantásticas imagens de pisos pelo mundo e conta histórias através dos pavimentos
Tudo começou em 2013 com uma divertida obsessão. Pensando em valorizar a beleza e o passado dos pavimentos que não notava ao caminhar, a jornalista Paola Carvalho, apaixonada por detalhes arquitetônicos, começou a fotografar os pisos dos prédios que visitava em Belo Horizonte e por onde viajava. Nas redes sociais, amigos perceberam a predileção e passaram a contribuir, enviando fotos dos que julgavam interessantes. Paola passou a reunir, em uma coleção virtual, fotos do chão em que ela pisava por aí – especialmente ladrilhos hidráulicos, mosaicos e parquets.
Logo depois veio a parceria com a designer Raíssa Pena, colega de redação na revista VEJA BH/Editora Abril. Assim nascia o Chão que eu Piso: era o começo de uma belíssima ideia que se espalhava pelo Facebook e Instagram. E diferente de outras ideias similares que retrata pisos que encontramos por aí, a intenção é jogar luz não só sobre a estética do chão, mas também sobre a história do lugar onde ele e a pessoa se encontra. Hoje já são mais de 200 registros próprios e 6.000 fotos de pisos históricos enviadas de cidades brasileiras e de outros países, como México, França, Espanha, Itália, Israel, Polônia e Japão, além das duas criarem produtos como sketchbooks, embalagens e pôsteres com o tema, sob encomenda.
Para saber um pouco mais sobre o Chão que eu Piso, conversamos com Paola e Raíssa. Confira nossa entrevista:
FTC: Vocês já pisaram em muitos chãos por aí. Qual foi o mais interessante até agora?
Paola: O mais interessante que pisei foi um que eu não pude de fotografar, na casa do pintor Claude Monet, em Giverny. É um ladrilho vermelho com flores em branco. Não é rebuscado, mas de uma simplicidade encantadora. Apesar de ficar logo no hall de entrada, pouca gente o repara. Já fotografado e publicado, destaco o chão do Memorial Minas Gerais Vale, na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. O padrão dele se repete em outras cidades do mundo, como no Rio de Janeiro e em Paris. Mas é só um exemplo, pois não consigo eleger apenas um. Gosto muito dos que além de lindos, são carregados de história, como o do Real Gabinete Português de Leitura, no Rio, e da Casa das Rosas, em São Paulo.
Raissa: Eu adoro o ladrilho geométrico do antigo Cine Theatro Brasil em BH e um mosaico da antiga Estação Central, também daqui, que parece um bordado em ponto-cruz.
FTC: O Chão que eu Piso vai além do registro das fotografias. Estão tocando algum projeto específico relacionado a isso atualmente?
Sim! Estamos transformando os padrões de pisos lindos em estampas de produtos. Já são várias parcerias, que nos permitiram lançar cadernos, latas de cookies, estojos de chocolate, pôsteres, entre outros. O nosso queridinho é o caderno de anotações, à venda em nosso site. Ao longo deste ano também vamos fazer o Ciclo de Palestras Chão Que Eu Piso. Uma vez por mês teremos convidados para falar sobre design, arquitetura e história, no Museu das Minas e do Metal, em Belo Horizonte. Temos outros projetos e estamos na busca de mais parceiros. Os interessados podem nos enviar email!
FTC: O que é arte para vocês e como vocês definiriam a sua arte?
Raíssa: Pergunta difícil, hein? Arte é dominar uma técnica de expressão e exercê-la para emocionar ou elevar psicologicamente o outro ou a si mesmo. Não acho que fazemos arte. Somos comunicadoras por formação e usamos a internet para recontar histórias que os ladrilhos antigos presenciaram. Os produtos que criamos têm, claro, intenção comercial, mas também são meios de perpetuar o contexto histórico, a memória, o bom design e a cor que resistiram ao tempo.
FTC: Qual a influência das cores que você puderam perceber nesses chãos?
Os designers do passado realmente não se acanhavam em usar cores na composição dos ladrilhos. Existem, claro, os mais sóbrios, como os portugueses (que usam muito azul-marinho sobre fundos brancos), e os modernistas (da década de 1950), que faziam composições geométricas com preto combinado a outro tom. Mas, em geral, os ladrilhos europeus, os árabes e os latinos (a maioria trazida da Europa no século XIX) são multicoloridos. Um detalhe curioso: os pisos azuis são os campeões de audiência em nossas redes.
FTC: Com o que vocês se inspiram?
Raíssa: Muitas coisas nos inspiram: desde uma série nova no Netflix até uma conta de Instagram cheia de novidades em produtos de papelaria. Nossa própria cidade é uma fonte de inspiração. Mesmo com os problemas típicos de uma capital, Belo Horizonte ainda nos encanta com sua arquitetura cheia de estilos diferentes, seu centro pulsante e uma comunidade empolgante de gente jovem, disposta, e que está entrando de cabeça na economia criativa.
FTC: Se tivesse que resumir o projeto, qual seria a frase perfeita?
“Pisos são guardiões de épocas e histórias que não devem ser esquecidas” ou “Olhe por onde anda!”
Acompanhe o Chão que eu Piso no Facebook e Instagram. Você também pode comprar produtos como cadernos e pôsteres do projeto aqui.
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