Projeto Urban Walls Brazil leva mais cores e arte urbana brasileira aos Estados Unidos

Arte brasileira pelo mundo, cultura e muitas cores! O projeto Urban Walls Brazil, criado por Roberta Pardo, nasceu justamente em cima desses princípios. Através de pinturas de murais e workshops nos Estados Unidos, Roberta cria um intercâmbio entre as duas culturas e abre o mercado e o relacionamento entre os países. Os artistas brasileiros são abrigados por meio de um programa de residência, onde são capazes de interagir com artistas locais e trabalhar em projetos comunitários de arte.

Em 2015, houve a participação de grandes artistas brasileiros como Rodrigo Branco, Ciro Schu, Vermelho, Gen Duarte, Arlin Graff e Ju Violeta. Além de participarem da primeira fase de embelezamento da cidade de Annapolis, com a execução de 8 murais junto com os americanos Jeff Huntington e Jimi HaHa, eles também pintaram murais internos no centro cultural de Maryland Hall, a 1ª capital dos Estados Unidos.

Nativa do Brasil com dupla cidadania, Roberta vive em Maryland há 13 anos com o marido e três filhos. Ela passou a maior parte de sua juventude viajando pelo mundo e fala seis idiomas. Antes de focar na arte, Roberta foi cavaleira internacional e treinadora, competindo pelo mundo todo. O caminho até aqui foi longo, e por isso, resolvemos conversar com ela para saber um pouco mais sobre suas inspirações. Confira:

FTC: Roberta, queria que você contasse um pouco mais sobre como chegou até a ideia do Urban Walls Brazil;

Eu sou uma brasileira radicada nos Estados Unidos há mais de 20 anos. Sai do Brasil ainda jovem, com 18 anos, para seguir o sonho de ser uma cavaleira de adestramento internacional. O que teria sido uma experiência de um ano na Europa passou a ser o resto da minha vida. Nunca mais voltei a morar ao Brasil. Me tornei uma profissional no meio equestre e cheguei a representar o país em grandes campeonatos internacionais, incluindo Jogos Pan Americanos e Mundial.

Minha carreira chegou ao fim quando conheci meu marido nos Estados Unidos. Com minha primeira gravidez, compreendi que seria extremamente difícil continuar e construir uma família, principalmente porque ele não era do meio hípico. Minha decisão de parar de montar foi difícil, mas havia chegado a hora. Com o passar do tempo, eu comecei a me envolver com a arte, minha segunda paixão. Como eu tinha cursado FAAP no Brasil e Art Center College Design na Califórnia, não foi coincidência. Eu retornei às artes uma vez que o hipismo não se encontrava mais no meu cotidiano.

Há 4 anos fui convidada para fazer parte do Arts Council of Anne Arundel, aonde comecei a organizar e fazer a curadoria das exibições desta organização. Foi durante essa nova fase que conheci a curadora da Galeria 102, Roxanne Goldberg, em Washington DC, e a ideia de realizar uma exibição com artistas brasileiros surgiu. Legal! An Exhibit of Brazilian Street Art havia nascido! Foi meu primeiro projeto nos Estados Unidos e o início do meu trabalho atual. A exibição foi um sucesso, viajando da Gallery 102 para a Porter Contemporary Gallery em NY, Maryland Hall em Annapolis, além do encerramento na Galeria Verve em São Paulo.

Os artistas que puderam vir à abertura da exibição foram o Vermelho, Gen Duarte, Tikka e Branco. Eles foram convidados para pintar, junto com Binho Ribeiro e mais 3 artistas locais, Jeff Huntington, Jesse James e Charles Lawrance, o primeiro mural de Street Arte em Annapolis. Eles também participaram de um workshop e do lançamento de prints. Foi o sucesso deste projeto maravilhoso que me incentivou a criar Urban Walls Brazil.

No momento estou trabalhando com a representação de um grupo de artistas brasileiros aqui nos Estados Unidos, mas meu foco maior é o projeto de residência artística que criei, aonde esses brasileiros ganham a oportunidade única de trabalhar diretamente com a comunidade americana, através de pintura de murais e workshops com grupos de crianças locais.

Este ano, nosso projeto foi realizado no Annapolis Design District. Foi a primeira fase de embelezamento da área. O ponto alto foi ser incluído no Catálogo de Artes Públicas. Esta foi a primeira vez na história desta cidade que a Street Art foi reconhecida como um ponto de interesse e turismo.

FTC: Aonde quer chegar com o projeto? Qual seu maior objetivo?

O céu é o limite! As coisas têm acontecido de uma forma muito natural e orgânica. As oportunidades para novos projetos e parcerias estão surgindo todos os dias. É difícil saber aonde vamos terminar. Mas seja aonde for, será com um prazer imenso de poder representar tanto talento brasileiro!

FTC: Para você, qual a influência das cores nos trabalhos?

Para mim as cores são reflexões das almas dos artistas. Esse é um dos motivos porque amo tanto a arte e a cultura brasileira. Eu vejo o otimismo e a perseverança do povo brasileiro na sua arte, através das suas cores vibrantes e seus traços marcantes. É mesmo o reflexo da alma do Brasil, da luta, da disputa e que apesar de todos os problemas, sempre acha tempo para o que é importante na vida: família, amigos, carnaval, futebol, enfim, a vida!

FTC: Está tocando algum projeto específico atualmente?

Sim. Meu próximo projeto vai ser em parceria com o Aeroporto Internacional de Baltimore (Baltimore Washington International Thurgood Marshall Airport). Vamos instalar 6 painéis de 2m x 5m dos artistas brasileiros que participaram da fase da exibição aqui nos Estados Unidos. Os painéis permanecerão expostos nos próximos 3 anos, durante a reforma da ala internacional do aeroporto. Os artistas serão Gen Duarte, Vermelho, Tikka, Branco, Binho e um dos painéis será meu. É com muita humildade que participo desta exibição, pois tenho a companhia de grandes artistas que respeito e admiro muito.

FTC: O que é arte para você e como você definiria a sua arte/dentro do seu projeto?

Arte é vida! É uma forma incrível de comunicação. O que seriamos sem imaginação e criatividade? Seria um mundo muito quieto, sem cor. Eu acredito que a arte em geral nos proporciona tudo isso e muito mais. Arte é o alimento da nossa essência! A minha arte é a pura reflexão da minha paixão. Não me considero uma artista de calibre internacional, mas o amor que tenho por isso é refletido no que faço, seja uma pintura ou na organização de um projeto.

FTC: Com o que você se inspira?

Minha inspiração vem da vida do dia a dia. Encontro inspiração nos meus filhos, não só porque eles são incríveis, mas porque ainda não foram influenciados pelos dramas da vida. A visão inocente de uma criança pode nos ensinar muitas coisas. Encontro inspiração na natureza, no amor, na sinceridade, e apesar de ser de uma forma completamente diferente, também encontro inspiração nas notícias do mundo, boas ou ruins. A tristeza e o sofrimento também me inspiram, porque se eu puder, mesmo que de uma forma muito pequena, ajudar ou trazer consolo para alguém através de uma ação, um gesto, uma poesia, uma arte, por que não? É um conforto e uma satisfação imensa saber que tenho uma voz através das artes.

FTC: 5 coisas que não consegue viver sem?

Minha família, meus amigos, minhas cachorras, viajar (sou meio cigana, tenho uma certa urgência de conhecer culturas novas), arte.

FTC: Uma frase da sua vida;

“Art has no boundaries. Art comes in all shapes, forms and colors. Art represents the most powerful and pure dreams”.

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