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Rafael Silveira convida o espectador a mergulhar no seu universo onírico através de obras carregadas de bom humor. Confira entrevista

O artista plástico Rafael Silveira, de 40 anos, nasceu na cidade de Paranaguá, no Paraná, mas vive desde a infância em Curitiba, onde graduou-se em Publicidade em Propaganda. Mas antes disso ele chegou a iniciar o curso de Educação Artística na Universidade Federal do Paraná.

Rafael reúne diversas referências e linguagens nas suas obras, com a missão de transportar o espectador para um universo onírico, surreal. Dentre elas os temas mais comuns são o circo, a tatuagem, a botânica, os quadrinhos e a publicidade dos anos 50. Todos carregados com uma dose de bom humor.

Ele revelou para a Inspi que sempre soube que seria um artista: “Sempre soube sim, só não sabia ao certo que tipo de artista seria. Sempre fui muito criativo desde criança, e à medida que fui crescendo a coisa foi acontecendo meio que naturalmente”.

O INÍCIO

Rafael começou sua carreira como Diretor de Arte em agências de publicidade, e teve uma grande produção de fanzines a partir do finalzinho dos anos 80. Essa produção continuou durante os anos 90, e durante esse período ele teve seu trabalho estampado em publicações nacionais e internacionais.

A partir do ano 2000 ele passou a se concentrar na ilustração, e a linguagem dos quadrinhos, herança dos fanzines, o acompanhou. Em 2004 ele começou a fazer pinturas à óleo, que se destacam na sua produção, juntamente com a técnica de pintura acrílica.

Com uma linguagem muito própria, o artista e ilustrador obteve grande notoriedade no cenário nacional das artes: “Eu sinto que não existe uma cena de artistas brasileiros dentro desse meu estilo, então o que eu faço acaba sendo diferente e isso gera um certo destaque”, revelou.

Seu trabalho ganhou ainda mais visibilidade ao ilustrar a capa do álbum Estandarte, da banda mineira Skank, em 2008. E hoje, além do Brasil, seu currículo conta com exposições em cidades como Nova York, Londres e Milão.

PARCERIA COM FLÁVIA ITIBERÊ

Desde 2016 Rafael Silveira tem desenvolvido em parceria com sua esposa e também artista, Flávia Itiberê, um projeto artístico que utiliza o bordado como base para representar figuras femininas que despertam o interesse pelo caráter onírico. Segundo O Globo, “Dentro do processo criativo, Rafael é o responsável pelos desenhos que servem de base para os bordados, enquanto Flávia, estilista por formação, executa a parte, digamos, manual”.

Também para O Globo, Flávia conta: “Sempre fui fascinada pelo bordado dentro do universo da moda, e enxerguei uma linguagem que poderia ser levada a outro nível de possibilidades. Aprendi a bordar de forma bem intuitiva, sem estudar os pontos tradicionais. Não existe uma classificação para o meu ponto, o que dá ao trabalho um caráter atual”.

CIRCONJECTURAS

Sua última grande exposição solo esteve recentemente em cartaz no Centro Cultural Fiesp, em São Paulo, e ocupou  um espaço de 500m². Com peças que seguem a temática circense dos anos 50, a mostra Circonjecturas também já passou pelo Museu Oscar Niemeyer (MON) em Curitiba em 2017, onde atraiu um público de 90 mil pessoas, se tornando uma das atrações mais visitadas da história do museu.

“A exposição de Rafael Silveira traz ao público uma experiência transformadora. Suas obras contêm aspectos lúdicos e inusitados, além da cenografia pensada para criar uma atmosfera que envolve o visitante a participar das obras, entrar e interagir com as instalações e com a paisagem gráfica que toma conta do espaço expositivo”, disse Juliana Vosnika, diretora-presidente do MON, durante a estadia da mostra no espaço.

O FTC conversou com o Rafael sobre processo criativo, trabalho, perspectivas e planos futuros. Confira nossa entrevista exclusiva.

ENTREVISTA COM RAFAEL SILVEIRA

FTC: Pode contar pra gente um pouco do seu processo criativo no dia-a-dia? Como uma obra começa a ganhar vida?

RAFAEL: As ideias vêm ao meu encontro como navios atracando em um porto. São emaranhados confusos, que tento acolher e organizar. As obras passam anos maturando em meus pensamentos antes de ganhar vida. Muitas vezes escrevo em meu sketchbook para não esquecer. Na hora certa, elas vêm a tona, para o mundo material. É um processo intuitivo. E daí se inicia uma construção, que envolve diversas técnicas e linguagens artísticas.

FTC: O que te dá mais prazer no seu trabalho? E o que dá menos?

RAFAEL: Adoro o processo todo, mas tenho muito prazer em ver uma obra ficando pronta. É como apreciar uma paisagem do alto após uma longa escalada.  O que menos gosto é a parte burocrática (presente em qualquer ofício).

FTC: Você utiliza uma grande variedade de materiais, linguagens e técnicas nas suas peças. Quando olha pra todas elas, o que você vê em comum?

RAFAEL: Uma espécie de parentesco. É como nós, brasileiros. Temos isso em comum, somos brasileiros. Mas cada um com suas histórias, uma espécie de diversidade que se conecta pelas semelhanças (embora as diferenças muitas vezes são mais facilmente percebidas).

FTC: Você desenvolveu em conjunto com sua esposa, Flávia Itiberê, obras que exploram a técnica do bordado. Existe algum material que você tem estudado ou se interessado recentemente que pode fazer parte de projetos futuros?

RAFAEL: A Flávia trouxe uma grande quantidade de referências e materiais do universo têxtil que eu desconhecia. Aprendi muito ao longo dos anos com ela, e todo esse repertório está sendo observado atentamente pela gente.

FTC: O que você gostaria que o público levasse como bagagem depois de visitar uma exposição sua?

RAFAEL: Tudo que acontece no agora, no mundo material, em algum momento começou a ser construído no campo das ideias. Tudo depende do que acontece nesse local distante, na intimidade de nossos pensamentos. Minhas obras têm essa característica de imersão onírica, justamente para transportar o público da superfície para as camadas mais profundas de nossos pensamentos.

FTC: Sua última exposição solo, Circonjecturas, esteve recentemente em cartaz na cidade de São Paulo. O que vem pela frente?

RAFAEL: Grandes exposições como a Circonjecturas levam anos para serem construídas e chegarem ao público. Há muita coisa pela frente, em diferentes etapas construção. No momento certo, anunciarei em minhas redes sociais! Deixo aqui o convite para os leitores acompanharem pelo meu perfil no Instagram, rede que sou mais ativo, e também o da Flávia Itiberê.Separamos o curta ‘O Gabinete do Dr. Silveira’, produzido pela Rasputines Estúdio em 2012, onde é possível acompanhar um pouco da rotina de trabalho e processo criativo de Rafael:

Além do Instagram, é possível conhecer mais sobre o trabalho de Rafael Silveira através do seu site.

Via.

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