Relembrando a controversa camisa azul do Vasco
Observar os uniformes de equipes esportivas é uma ótima maneira de estar a par tanto de tendências de mercado (isto é, quais tipos de empresas tendem a investir mais em determinada modalidade) quanto de moda (como os designs com maior ou menor aceitação por parte do público).
Graças ao contexto tecnológico atual, é comum que as camisas de clubes nacionais carreguem símbolos de casas de apostas online, já que além de informações sobre futebol, esses sites oferecem comentários esportivos, tutoriais e previsões. Há alguns anos, entretanto, a tendência era mais voltada a experimentar com cores diferentes daquelas às quais os clubes eram associados.
Essa tendência não desapareceu por completo. Basta ver que a atual camisa número 3 do Cruzeiro é amarela (em homenagem à seleção brasileira). Mas, de modo geral, a maioria dos times mais tradicionais do país vem sendo cautelosa na hora de adotar designs alternativos. E a controvérsia em torno de um uniforme do Vasco justifica tal postura.
Tradição
A camisa número 1 do clube carioca consiste em faixa transversal branca sobre fundo preto, com a cruz pátea vermelha (erroneamente chamada de cruz de Malta) no lado esquerdo do peito. Na camisa número 2 (que tende a ser utilizada até com mais frequência) as cores se invertem: a faixa transversal é preta e o fundo é branco.
Já a camisa número 3 tende a ser ou totalmente preta ou totalmente branca, e a cruz pátea pode dar lugar à cruz da Ordem de Cristo (também na cor vermelha). Essa troca não pode ser considerada nem inusitada nem surpreendente, pois é esta outra cruz a que se vê na bandeira do clube (e a que se via em uma versão antiga do escudo).
Inovações
Em 2010, a Penalty (que era então a fornecedora de material esportivo do Vasco) lançou em parceria com a Cavalera um terceiro uniforme que ficou conhecido como templário (em referência à Ordem do Templo). Nele via-se a cruz de Cristo vermelha ocupando toda a parte frontal da camisa sobre um fundo branco.
O uniforme templário fez sucesso nas lojas (até porque foi escolhido pelos próprios sócios, que podiam votar nele ou em outros dois modelos), o que encorajou a Penalty a dar um passo além com a terceira camisa de 2012. O design era essencialmente idêntico ao de dois anos antes, mas desta vez a cruz era branca e o fundo era… azul.
Uma volta às raízes
Foi tão grande a controvérsia gerada por esse novo uniforme templário que o presidente do Vasco na época, Roberto Dinamite, emitiu uma nota oficial para defendê-lo. Disse ele que o azul representava os mares desbravados pelo navegador que dá nome à instituição, lembrando ainda que essa cor estava presente na primeira bandeira de Portugal.
Outro argumento a favor do azul é que nenhum dos principais rivais do Gigante da Colina (Botafogo, Flamengo e Fluminense) o tem como cor oficial. Mas não houve jeito. No início de 2013, em ação movida por um benemérito do clube, o seu uso em jogos oficiais foi proibido no entendimento de que se tratava de uma infração do estatuto do clube.
Desde então, o máximo de ousadia a que o Almirante se permitiu em termos de cores foi o bege — como visto no belíssimo terceiro uniforme de 2013 conhecido como raízes. Já o azul só foi visto em camisas de goleiros. Alguns podem considerar isso excesso de conservadorismo; mas, no futebol, a inovação frequente esbarra na tradição.