Antes de mergulhar no universo minimalista das joias artesanais, Mariana Gouveia desenhava e criava linhas de Jeans para marcas como Ellus2nd Floor, Ellus e Triton. Estilista formada pela Santa Marcelina (SP), acompanhava a peça do desenho até algum ponto entre os primeiros pilotos. Dali, só voltaria a encontrar o produto já pronto. Essa interrupção do processo, um intervalo que poderia ser cheio de possibilidades de interferências criativas, a incomodava.

Foi a vontade de investigar um trabalho manual e de poder acompanhar tudo que a levou para uma escola de joalheria de bancada em 2011. Pesou também o fato dela nunca encontrar acessórios de que gostasse o suficiente para usar sempre. Foi quando experimentou a criação de joias que nasceu o Estúdio IRACEMA, sua marca autoral, que traz peças atemporais com foco no desenho clássico e no elogio dos materiais. Pedras brutas e prata são os fundamentos. Há também peças só de prata, em diversos banhos, e também pedras com lapidações diversas.

Mas é na abordagem sem projeto pré-definido de pedras em seu estado mais natural que as joias da Iracema encontram sua expressão máxima. Cada uma é desenvolvida de maneira totalmente orgânica, a partir do respeito à beleza e individualidade de cada material. Por isso, cada item é único.

Todas as peças são feitas a mão pela estilista, que busca nessas pedras cores únicas, formas irrepetíveis, para então desenvolver o encaixe perfeito. Mariana abriu o seu ateliê para o FTC e falou um pouco sobre o seu processo de criação e inspiração. Confira:

FTC: Queria que você falasse um pouco sobre você e como chegou até a as joias artesanais;

Sou formada em moda e meu primeiro contato com a joalheria foi ainda na faculdade, mas apenas em 2011 comecei um curso de joalheria artesanal e a ideia de trabalhar com isso foi nascendo. Comecei fazendo joias para mim, pois sentia dificuldade de encontrar acessórios que eu gostasse bastante, que pudesse usar sempre e pudesse comprar.

Trabalhei por quase 10 anos como estilista de jeans, que é um trabalho bem especifico e gostava muito, mas sentia necessidade de acompanhar o processo de criação do começo ao fim, e de experimentar um trabalho mais manual. Comecei um curso de tricô que abriu a minha cabeça para o manual e logo cheguei na joalheria.

FTC: Há quanto tempo cria e quais materiais utiliza?

Comecei em 2011 e não parei mais! Utilizo prata (em banhos diversos, mas sempre a base é prata) e pedras naturais brutas e lapidadas. Também uso pérolas e conchas.

FTC: Qual foi sua primeira peça e o que ela hoje representa para você?

Tenho duas peças que foram muito importantes no começo e que me ajudaram a definir o que é a marca hoje. Uma é o brinco articulado, que é um brinco bem minimalista, simples e leve para usar todo dia mesmo. Ele tem um mecanismo de articulação bem interessante e gosto muito dele. Ele representa as peças da coleção que não saem de linha, que são atemporais e feitas para que você use com o que você já tem e que combinam com tudo.

A outra é um anel com 2 turmalinas brutas, que faço por encomenda. Fiz o primeiro para uma amiga, que escolheu as pedras que queria e ela pode acompanhar o processo, escolher onde as pedras ficariam e o acabamento e banho da peça. Eu já fazia peças com pedras brutas, mas a partir dessa experiência passei a desenvolver mais peças únicas, a misturar formatos e cores diferentes e as pedras lapidadas também. Gosto de dar opções para os clientes, para que eles participem da criação de sua joia.

FTC: Está tocando algum projeto específico atualmente?

Estou focada no desenvolvimento de novas peças, para uma nova coleção que pretendo lançar em outubro/novembro.

FTC: O que é arte para você e como você definiria a sua arte?

O meu trabalho tem muito a ver com a natureza e todas as suas possibilidades. O que eu faço é ressignificar esse material, criar conexões, sempre com respeito à individualidade e beleza de cada matéria-prima.

O Estúdio IRACEMA dá extrema importância à durabilidade e atemporalidade para criar joias que podem e devem ser usadas diariamente e sempre, independente do estilo pessoal. São peças que compõem o visual de quem as usa, sem exigir o primeiro plano sempre.

FTC: Com o que você se inspira?

A minha inspiração vem dos próprios materiais, gosto de criar com as pedras que vou usar já na bancada. O processo é todo muito orgânico e vai acontecendo. A natureza é a minha maior referência.

FTC: 5 sites que gosta muito, um livro e um filme;

Gosto de ler o Nexo Jornal, o Ponto Eletrônico – site de tendências da Box1824 e entro bastante no Etsy, que tem muitas lojinhas incríveis! Também leio sempre o Modefica e uso bastante o Pinterest para organizar imagens.

Meu livro preferido é “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde. Gosto muito de filmes e principalmente de documentários. Não tenho um preferido, mas “O Renascimento do Parto” foi muito marcante para mim.

FTC: Uma frase que resume esse seu momento e suas criações;

Criação sem projeto pré-definido, com pedras em seu estado mais natural sempre que possível, e desenvolvimento de cada uma de maneira orgânica. Isso define a marca e o que eu acredito. Também tento simplificar sempre, o que é bastante difícil e desafiador, conseguir se destacar fazendo peças que não são o primeiro plano, mas que compõem os looks.