5ª edição do CINM que aconteceu em São Paulo trouxe questionamentos sobre os rumos da moda
Especialistas de diversas áreas contaram suas experiências em uma semana recheada de conhecimento e inspiração. Saiba o que rolou no CINM – Congresso Internacional de Negócios de Moda.
No final de setembro, entre os dias 25 e 28, aconteceu em São Paulo a 5ª edição do CINM – Congresso Internacional de Negócios de Moda. O evento, que faz parte da 1ª Semana Brasileira de Moda teve sua abertura marcada pelo Fashion Film Festival São Paulo (FFF), sediado no Unibes Cultural.
Os outros dias foram reservados para palestras inspiradoras, que aconteceram na EACH, campus da USP na Zona Leste, onde é ministrado o curso de graduação de Têxtil e Moda.
Organizado pelo IBModa e em parceria com os alunos da EACH, o CINM foi um sucesso. Foi muito legal ver que houve um retorno positivo de todo o esforço feito para que um evento importante para a moda brasileira acontecesse aqui no nosso país, valorizando inovações na área.
Nós tivemos o prazer de participar do CINM como palestrantes. Na quarta-feira, dia 27 de setembro, apresentamos um pouco sobre o FTC e levamos alguns cases legais de matérias relacionadas a moda, tecnologia, consumo consciente e novas marcas brasileiras, com o tema Comunicação Digital: internet e novas formas de consumo.
Foi uma oportunidade única de ter contato com novas ideias e uma grande troca de experiência. Junto conosco palestraram nomes como Rita Wu, Renan Serrano (Trendt), Mariana Marcílio (Pluvi.On), Fernanda Simon (Fashion Revolution), Flavia Aranha, Diogo Hayashi (Lab Fashion) e Bernhard Pascher Heinz (Pascher + Heinz).
Mesa com os palestrantes do CINM – Congresso Internacional de Negócios de Moda: olha a gente ali no meio de tanta gente fantástica!
OFICINA DE TINGIMENTOS NATURAIS COM FLAVIA ARANHA
Depois da nossa palestra, participamos de uma oficina incrível sobre tingimentos naturais, ministrada pela Flavia Aranha. A estilista é dona de uma marca homônima que já existe há sete anos.
Nesse curso, Flavia falou sobre as dificuldades de se ter uma marca sustentável e atender às expectativas dos consumidores. Ainda assim, é um desafio gratificante procurar sempre por alternativas naturais e cada vez melhores.
Tivemos contato com alguns dos materiais que ela usa em suas produções, como urucum, pau-brasil, crajiru e catuaba. O tingimento natural é uma técnica menos nociva, mas que também vem com responsabilidades. A estilista diz que se todas as marcas fossem investir nesse estilo, nossa natureza entraria em extinção (mais ainda).
Por isso, é importante, além de explorar novos recursos, tentar trabalhar com os resíduos já existentes. Na sua nova coleção, de impressões botânicas, Flavia usou cascas de cebolas. Para as peças da outra coleção que foram tingidas com o pau-brasil, foi usada a serragem da produção de arcos de violino, feitos no Espírito Santo.
Paubrasilia echinata – arabutã, ibirapiranga, ibirapitá, ibirapitanga, orabutã – nosso Pau-Brasil, segundo Flávia.
MARCAS E SEUS PROPÓSITOS
Na quinta-feira, dia 28, o tema principal da primeira mesa do dia foi sobre marcas e seus propósitos. Quem abriu as palestras foi Luciane Robic, do IBModa, que falou um pouco sobre sua trajetória profissional. Técnica em engenharia, ela mais tarde estudou marketing e fundou a sua consultoria para marcas de moda. “Nunca estudei moda, mas sempre tive a moda como objeto de estudo”, disse.
Depois, se juntaram à mesa André Carvalhal, fundador da Malha, no Rio de Janeiro e Jaime Troiano, fundador da TroianoBranding. André ressaltou que as marcas não têm pensado nas pessoas hoje em dia e fez uma crítica de que a moda passou de um serviço de expressão e autoconhecimento para uma indústria de exploração de mão de obra e consumo desenfreado. Sua fala foi em prol do resgate do propósito da moda.
Nas mesas seguintes, falaram nomes como Fabio Mariano (especialista em comportamento do consumidor e tendências de mercado), Carolina Althaller (Artplan), Bruno Capão (Lado B), Mario Hirata (Presidente da Invel), André Hidalgo (Idealizador da Casa dos Criadores), Higo Lopes (Gerente de Visual Merchandising Granado e Phebo) e Lívia Barros e Janaina Azevedo (Ken-gá Bitchwear).
Bruno Capão falou sobre pluralidade e inclusão social, de gênero e etnia na moda.
As falas de Fabio Mariano, Carol Althaller e Bruno Capão especialmente ganharam destaque por abordarem a pluralidade e inclusão social, de gênero e etnia na moda. Eles trouxeram cases bacanas do que realmente são posicionamentos de marcas que estão atentas às mudanças sociais e comportamentais.
Aqui alguns links de exemplos: Melissa SK8: Dona de si e da cidade, Adidas Original – I did it my way, Skolors.
Mariana Marcílio da Pluvi.On conta sobre como nasceu a ideia de ‘hackear’ a chuva.
Com tanta diversidade de participantes e temas no Congresso, não há uma única conclusão de tudo o que foi falado, mas podemos ressaltar alguns pontos em comum. O mercado de moda está mudando, já é algo concreto, não uma coisa que ainda estamos esperando.
André Carvalhal, fundador da Malha, ressaltou que as marcas não têm pensado nas pessoas e que a moda virou uma indústria de exploração.
QUAL O FUTURO DA MODA, AFINAL?
As marcas estão mudando a partir de uma demanda do público. Como disse André Carvalhal, a moda precisa reencontrar a sua essência de expressão e autoconhecimento. Trabalhos como do Fashion Revolution, Repórter Brasil e outras organizações são essenciais para nos ajudar a repensar a forma como e de onde consumimos roupas. E também nos alertam sobre a importância de ética e dignidade em toda a cadeia produtiva de moda.
Não adianta uma marca fazer uma roupa com matéria-prima orgânica ou reciclada se ela não paga seus trabalhadores como deve e se não dá a eles as condições mínimas para um trabalho seguro. Os consumidores também estão cada vez mais atentos ao que é apenas uma jogada de marketing e ao que de fato é uma mudança e um posicionamento de marca.
Vimos que já existem muitas pessoas incríveis na área acadêmica e no mercado brasileiro, juntando forças para o uso de novas tecnologias e novos jeitos de se comunicar, criando um novo propósito.
Renan Serrano da Trendt, marca que traz moda sem gênero e durável, através de novas tecnologias e materiais.
Agradecemos ao IBModa pelo convite e parabenizamos a todos pela organização do incrível evento! Vida longa ao CINM – Congresso Internacional de Negócios de Moda!
Saiba mais: IBModa. Imagens: Laura Silva.