“Eu observo as falhas e nelas enxergo novas oportunidades”; conheça o trabalho de Renan Serrano, conhecido como o ‘hacker da moda’

“Eu observo as falhas e nelas enxergo novas oportunidades”; conheça o trabalho de Renan Serrano, conhecido como o ‘hacker da moda’

Com um olhar diferenciado a respeito da moda e consumo, Renan Serrano mostra que barreiras funcionam como um catalisador para novas criações. 

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Você já ouviu falar no nome Renan Serrano? Constantemente chamado de “hacker da moda”, o paulistano de 29 anos é, entre outras coisas, o criador da Trendt, que une moda e tecnologia e está mudando o jeito que uma marca se relaciona com o seu consumidor.

Além de estar envolvido em diversas pesquisas no ramo, Renan procura sempre criar produtos que transcendam barreiras. Entre eles, destaca-se o Biosoftness, um amaciante que forma uma espécie de barreira protetora nas roupas, impedindo a proliferação de qualquer bactéria causada pelo suor. Assim, o produto garante uma vida útil maior às roupas, evitando lavagens excessivas, além de contribuir com o meio ambiente ao economizar água. Por ser tão inovador, o Biosoftness ganhou o prêmio Ecoera em 2016.

Ele inclusive é utilizado nas roupas da Trendt. Criada em 2011, logo após a sua graduação em moda na Santa Marcelina, a marca nasceu com um intuito diferenciado. As roupas são pensadas no conceito agênero e são desenvolvidas a partir das necessidades dos consumidores.

Algumas das peças são expostas na House of Bubbles, um espaço colaborativo que oferece salas de trabalho e que administra um guarda-roupa coletivo, em Pinheiros, bairro de São Paulo. Lá os clientes podem tocar as roupas, ver os modelos e fazer a sua encomenda sob medida diretamente com Renan, que é quem os atende.

Hoje, ao invés de pensar em coleções, a marca tem um ritmo mais lento, com poucas peças por ano, procurando atender às necessidades dos clientes e prezando pela qualidade e respeitando o tempo de produção.

RENAN SERRANO E SEUS INÚMEROS PROJETOS 

Em 2015, em sua passagem pelo Brasil com a Mostra Terra Comunal, a artista Marina Abramovic e sua equipe vestiram roupas criadas por Renan em sua residência na FlagG.CX. Lá, ele também desenvolveu projetos para marcas como Adidas e Fila.

Com a Olympikus, Renan participou de um projeto emocionante para os amantes de esporte. Em uma homenagem ao Bernardinho, todas as camisetas que ele usou nas maiores vitórias de jogos do Brasil foram desfiadas. Com essas fibras, foi feita uma única camiseta nova, A Camiseta Mais Vitoriosa de Todos os Tempos, que carrega toda a história do ex-técnico de vôlei brasileiro.

Atualmente, Renan está com uma campanha no Catarse para produzir o Biodorante, um desodorante biodegradável. Segundo ele, até ingredientes comumente usados em produtos alternativos e mais naturais, como o leite de magnésia, fazem mal à saúde a longo prazo.

A ideia é criar um desodorante com produtos totalmente compatíveis com o corpo humano. O projeto nasceu a partir do StartingUp, evento de Biotecnologia da Universidade de São Paulo (USP) e conta com a colaboração e pesquisa de seis mestrandos do curso. Criativo, inquieto, inovador, sua mente não para.

Nós conversamos com o Renan Serrano e ele respondeu a algumas perguntas que fizemos a respeito da sua trajetória. Confira:

ENTREVISTA – RENAN SERRANO, O HACKER DA MODA

FTC: De onde surgiu o apelido de “hacker da moda”?

De uma matéria para a Red Bull, depois de eu ter explicado a lógica que utilizo, onde basicamente eu entro no “sistema da moda”, jogo o jogo do jeito que é. E uma vez dentro do fluxo, eu observo as falhas e é nelas que existem novas oportunidades, onde não tem falhas, já tem muitos players e a concorrência fica desleal, é o tal do “mar vermelho”.

FTC: Como começou o seu trabalho unindo moda e tecnologia? Você sempre se interessou por isso?

Eu sempre enxerguei que eu precisaria ter um trabalho além da estética se eu quisesse ser reconhecido no mercado de moda. Comecei escolhendo meus tecidos pela composição e não pelo toque ou estética. Depois, passei a trabalhar essa composição com químicos da estamparia e após alguns anos, consegui encontrar um equilíbrio entre o meu estilo e a técnica, que basicamente, foi um upgrade no devorê, que ninguém havia feito antes. As marcas simplesmente seguiam as regras, eu fui com a intenção de explorar e melhorar.

Depois de uns 3 anos de marca (Trendt) fui estudar fora com apoio do TexBrasil, do qual recebi algumas acelerações e vi a importância da tecnologia além da manufatura, a tecnologia do processo e na relação com os usuários da marca. Participei de uma residência tecnológica na Flagcx, foi um ano da marca que acelerou a mentalidade equivalente a uns 5 anos a frente do tempo do qual estávamos, essa aceleração deu margem para ganharmos uma sobrevida nesse mercado tão concorrido; depois disso passei 6 meses no RedBull Station (espaço público e gratuito), 6 meses no FabLab Livre SP (espaço público e gratuito) e agora estamos na StartupFarm, dentro do Google Campus (espaço público e gratuito).

FTC: Quais são as suas principais inspirações para as criações da Trendt?

O sentimento das pessoas, quais são as necessidades delas. O engraçado é que as necessidades são pouco sobre diferenciação e mais sobre usabilidade (UX), coisa que na moda a galera nem sabe o que significa. Mas também é importante assistir a todos os desfiles do mundo, de A-Z não só para clusterizar o que tem em comum como tendência, mas principalmente o que essas marcas têm tentado fazer, mas ainda está imaturo, está sem espaço. Aí é um gap bom para se trabalhar, pois é a visão de comunidade e open-source, alguém tenta, não consegue, você pega e melhora!

FTC: A marca trabalha com coleções?

Já se foi o tempo de se trabalhar com coleções de verão ou inverno, isso era em 2014, quando estávamos jogando o jogo para acharmos as falhas. Desde então não lançamos coleções novas; temos alguns modelos novos que são apresentados para clientes que já possuem a timeline de produtos anteriores e precisam de peças novas.

FTC: O que você busca colocar no mundo com a Trendt?

Os desfiles já não impactam por sua mensagem, as pessoas se sentem no poder de criticar a estética da roupa e acabam esquecendo do motivo por trás do qual a roupa foi feita. No início eu achava que a Trendt iria conseguir impactar positivamente a sociedade, através de um desfile, mas não rolou, a missão continua a mesma, mas agora através de outros meios.

FTC: Você pode explicar um pouquinho sobre o que é o Biosoftness?

O Biosoftness é um desses meios, já que falar e expor não resolveram, precisei estudar bioquímica para proporcionar uma solução tangível que proporciona a economia de água na lavagem das roupas. O usuário aplica ele na roupa e ela se mantém higiênica, mesmo após vários usos.

FTC: Qual foi a principal motivação para o desenvolvimento deste produto?

Ele é só um de vários que vem por aí, para dar acesso à transformação, para que o usuário final tenha poder de escolha, decisão e mudança. Diferente de como a indústria opera, que é o market push, empurrando soluções para os consumidores, nossa iniciativa é ouvir o que os consumidores e o mundo/natureza em sinergia estão requisitando.

A escassez de água que São Paulo passou em 2015; o que a cidade de Mariana continua enfrentando e até a Califórnia também tem, fez eu perceber que eu deveria fazer algo. Quando observei a análise de dados de consumo, percebi que as pessoas compram roupas principalmente porque elas envelhecem com a lavagem. Nasce ai a solução: o Biosoftness!

FTC: Como foi a experiência de vestir a Marina Abramovic em sua visita ao Brasil?

Foi uma validação para o meu trabalho, ela e o time por trás são de uma extrema sensibilidade. O interessante em tudo isso é a metodologia da “arte de performance”, ela foi meu objeto de pesquisa ainda na faculdade, através do artista Joseph Beuys. Basicamente esse tipo de arte se adapta conforme a reação do público, não é algo pré-definido, é um organismo vivo e é a maneira como eu trabalho, fazendo roupas ou qualquer outra solução que eu venha oferecer.

FTC: Tem algum outro projeto ao qual você está se dedicando mais atualmente?

Recentemente formei um time de Biotecnologia na USP e ganhamos um prêmio, criando um desodorante biocompatível. Ele não vai deixar cheiro na roupa nem manchar ela, mas o fator mais importante é que ele não bloqueia a transpiração, como é o caso do leite de magnésia e não possui ativos nocivos à saúde humana, como os metais. A grande sacada foi encapsular a solução, assim ela se degrada lentamente, protegendo o usuário ao longo de todo o dia.

FTC: E o que podemos esperar para frente?

(Risos) Nem eu sei. Ter conhecimentos de áreas distintas converge em muitas soluções novas. A cada 6 meses da minha vida sinto como se houvesse passado anos, cada dia que passa, a absorção de conhecimento e transformação dele para algo tangível vem se tornando mais simples, mais ágil e mais efetivo!

Ao navegarmos pelo site de Renan Serrano, é como se estivéssemos por dentro de seu cérebro. Lá estão compilados projetos, realizações, pensamentos e assim podemos conhecer um pouco mais do seu trabalho e do seu incrível processo criativo.

Vale a pena conhecer outras ideias bacanas nos quais ele está envolvido. Temos certeza que ainda vamos ouvir muito falar do seu nome!

Imagens: Victor NomotoTrendt, Revista Use Reserva.

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