Através da Arte Têxtil, Tainá Denardi propõe reflexões sobre as relações humanas
Eu sou Muitos, 2017
Esculturas e instalações que utilizam o crochê como meio de materializar e unir pensamentos, imagens, pesquisas e reflexões em torno de um assunto ou sensação. Os assuntos giram em torno das experiências humanas, as relações entre as pessoas, o corpo humano, o vazio como um espaço de possibilidade, as formas tridimensionais e a experimentação de diferentes materiais.
As obras são criadas por Tainá Denardi que é formada em Psicologia, mas desde 2011 mergulhou de cabeça na área das técnicas têxteis manuais. Atualmente Tainá trabalha com arte em crochê, dá aulas de crochê e tricô em instituições de ensino, eventos e projetos sociais, e faz parte de um coletivo de experimentação têxtil, o Grão.
As técnicas manuais surgiram em sua vida logo após o final de faculdade quando ela se deparou com um momento de reflexão sobre os caminhos de sua vida e desejos. A artista resolveu seguir outras direções, mas a Psicologia e a Psicanálise continuam sendo assuntos pelos quais se interessa muito.
“Comecei na área têxtil bordando camisetas com a ilustração de uma amiga, aprendi tricô com outra e em seguida encontrei o crochê e me apaixonei. Aprendi crochê experimentando sozinha, assistindo vídeos na internet, com livros e tirando dúvidas com amigas, mas foi com a participação em coletivos de valorização da cultura manual e em projetos de instalações urbanas que minha percepção sobre sua potência e suas possibilidades se ampliou”.
Confira a entrevista que fizemos com a artista e conheça suas lindas e profundas obras:
ENTREVISTA COM TAINÁ DENARDI
FTC: Como surgiu a ideia de dar início as instalações e esculturas?
Tainá Denardi: Comecei o meu trabalho individual com crochê criando receitas de bichos e objetos tridimensionais (os amigurumis) para algumas marcas, então o crochê tridimensional foi um caminho meio “natural” no meu pensamento de criação. Além da minha história de intervenção urbana com os coletivos, pensar o espaço e o que pode se passar nesse espaço sempre foi interessante.
As instalações e as esculturas surgiram como um meio de dar uma forma, de colocar para fora a “colagem” de imagens, sensações e pensamentos que eu fazia sozinha em torno de um tema. Uma forma de dar corpo mesmo para essas reflexões, lidar com elas de outra maneira e de alguma forma fazê-las coletivas.
Contato, 2017
FTC: Há quanto tempo cria e quais materiais mais utiliza?
Tainá Denardi: Comecei o meu trabalho individual em 2015 quando senti a necessidade de criar para além do trabalho coletivo do qual participo desde 2011, então posso considerar que crio usando o crochê há 7 anos.
Uso os mais variados materiais: fio de lã, de algodão, acrílico, de malha, de polipropileno, arame. Acho interessante a questão da experimentação aberta mesmo, usar tudo que pode ser transformado em fio e testar, sentir o material, perceber como se consegue efeitos diversos e trabalhar com essas diferenças.
Concchettas, 2018
FTC: Qual a influência das cores nos seus trabalhos?
Tainá Denardi: Por sua capacidade de despertar sensações e por carregarem muitos significados, alguns individuais outros compartilhados, as cores aparecem nos meus trabalhos como uma maneira de amplificar e ampliar os pensamentos colocados na construção da forma e na apresentação.
FTC: Está tocando algum projeto específico atualmente?
Tainá Denardi: Atualmente continuo interessada no trabalho com metal e iniciei uma nova pesquisa, ainda na fase de testes, para expor no ano que vem. E também estou nos momentos finais de um projeto de com minhas companheiras do Grupo Grão.
Desconstrução – Reconstrução, 2016
FTC: O que é arte para você e como você definiria a sua arte?
Tainá Denardi: Arte para mim é toda expressão humana que nos afeta, que nos provoca, que nos tira de lugares conhecidos para abrir a possibilidade de questionamento e da construção de novos lugares, mais conscientes, em sua maneira de pensar, de estar e de ser com a gente mesmo e com os outros.
Meu trabalho reflete pensamentos, sensações e percepções íntimas de movimentos coletivos, voltando à esfera pública e buscando o outro em sua dimensão individual, em um convite ao contato e a construção permanente de si em uma dança entre o íntimo e o público, individual e coletivo, eu e o outro.
FTC: Com o que você se inspira?
Tainá Denardi: Me inspiro com coisas variadas, acho que com quase tudo, com vivências, contatos e diálogos cotidianos, com sensações, com as relações e os corpos humanos, com imagens, literatura, Psicanálise, com fatos da cidade e do país.
Tento estar aberta à percepção das mais diferentes coisas porque gosto de misturar referências de fontes e formas variadas para construir meus projetos.
FTC: Desde quando começou a mexer com o material, o que aprendeu?
Tainá Denardi: Primeiro aprendi que fazer uma coisa do zero, com as próprias mãos, a partir de um fio é uma coisa poderosa! Tem um aprendizado nessa situação que capacita subjetivamente as pessoas, modifica o nosso contato com nossa própria potência de vida.
O contato com o crochê me deu acesso à dimensão das possibilidades, é uma técnica muito versátil dá para fazer o que quiser, em qualquer lugar, com qualquer material que possa ser transformado em fio, que tenha resistência para não romper e maleabilidade para fazer os pontos. Assim, me permito explorar e com isso também exercitar a liberdade de me experimentar.
O crochê também me fornece uma dimensão de limite, corporal porque envolve uma questão motora, que exige aprendizado e repetição de movimentos, mas também, de alguma forma, um limite temporal, o tempo dos processos. O processo de materialização, de execução de uma peça usando o crochê, ou qualquer outra técnica manual, requer tempo, exige muitos pontos, testes, erros, não adianta correr contra.
Mas tem também o contato com um tempo que é para além do relógio, das horas trabalhadas, são momentos de relação consigo mesmo, de intenção de pensamento, de atenção no movimento, um exercício de presença.
Ultimamente estou trabalhando com fio de metal, é um material complicado pois às vezes machuca e é difícil visualizar os pontos, mas tem me trazido reflexões interessantes sobre lidar com matérias duras e resistentes ao movimento, sobre a necessidade do auto-cuidado diante da rigidez, sobre desconstruir a maneira de enxergar o ponto de crochê, sua trama organizada e homogênea e trabalhar a irregularidade e a diferença como característica enriquecedoras.
Ver é ver-se a si mesmo, 2018
Perspectivas, 2018
FTC: E agora, o que vem pela frente?
Tainá Denardi: Em Dezembro tem instalação de crochê com o Grão no Sesc Bertioga, em 2019 exposição coletiva e pretendo continuar experimentando as infinitas possibilidades que o crochê me traz.
Crochê na Pele do Outro, 2017 – (Obra coletiva resultado uma oficina)
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