Tavares Tattoo: brasileiro aposta na aquarela e no realismo para criar artes perfeitas na pele
Reza a lenda que, ainda no jardim de infância e depois de inúmeras reclamações da mãe sobre os desenhos nas paredes, Tiago Tavares se escondia embaixo da cama para desenhar no estrado do colchão. Lá, seus rabiscos não desafiavam a harmonia da decoração do pequeno apartamento do conjunto habitacional onde ele morava na zona norte de Porto Alegre, sua cidade natal.
Na escola, os cadernos e provas sempre exibiram desenhos ao invés de letras e números. Essa mania de rabiscar aliada à sua curiosidade o guiaram pelo caminho da arte. Ainda em Porto Alegre, foi aprender a técnica de pintura a óleo sobre tela, participou de oficinas na Casa de Cultura, até que se mudou para Santa Catarina para estudar. Lá, onde morou por 11 anos, iniciou seu aprendizado no mundo da tatuagem com o artista argentino Diego Fernandez, com quem trabalhou durante três anos.
Os anos se passaram e em 2009, já em Criciúma, ele fundou o atelier de tatuagens Tavares Crazy Hat Tattoo. De volta ao Rio Grande do Sul, integrou a equipe do Tattoo Arte NH, em Novo Hamburgo (entre 2011 e 2012). Em 2012, voltou à capital gaúcha e trabalhou de 2012 a 2014 na equipe do Edu Tattoo, um dos estúdios mais prestigiados do Rio Grande do Sul e mais antigos do país.
Depois de muito treino, soube que o caminho era esse. Nesse meio tempo ganhou muita experiência e foi atrás de seu próprio estilo, caminho que continua traçando até hoje. Atualmente, Tiago, mais conhecido como Tavares Tattoo, atende de quarta a sábado no 13 Custom Tattoo, em Porto Alegre. O artista tem traços firmes e precisos, vai do realismo ao aquarelado, além de produzir fantásticas pinturas a óleo sobre tela e aquarela sobre papel. Confira a entrevista com o talentoso brasileiro:
FTC: Queria que falasse um pouco sobre você, contasse o que fazia antes e como foi parar na tatuagem.
Sou o Tiago Tavares, o Tavares Tattoo, gaúcho de Porto Alegre. Sempre fui curioso, acredito que não tenha saído da “fase dos porquês” (aquela em que as crianças questionam o porquê de tudo). Então, devo ter sido, ou sou, muito inconveniente. O fato é que nunca me resignei com explicações superficiais. Com uma maneira própria de armazenar e conectar informações, desde a infância uso imagens para conseguir me expressar. Não que as pessoas entendam isso, pois é uma linguagem extremamente egoísta que me satisfaz; uma loucura autodirecionada.
De tanto ouvir reclamações sobre os desenhos (se é que poderia chamar aquilo de desenhos) nas paredes da minha casa, em Porto Alegre, logo descobri espaços fora das vistas dos adultos – locais onde poderia criar meus mapas mentais. O estrado da minha cama, por exemplo, tinha mais riscos que os prédios de São Paulo. Sempre que ia ao Centro de Porto Alegre e via alguma pessoa tatuada, ficava me questionando de como aquilo era possível. ‘Como faz para a tinta não sair? Esses caras não tomam banho?’ Essa curiosidade aliada a uma linguagem própria guiaram meu desenvolvimento artístico.
Na adolescência, frequentei o Atelier Hilda Venturini, onde iniciei o contato com a pintura a óleo. Ainda em Porto Alegre, participei de algumas oficinas de artes e de comunicação na Casa de Cultura Mário Quintana e foi nesse ambiente que me desviei um pouco do mundo artístico e resolvi estudar Comunicação Social. Para isso, saí da cidade e fui estudar no Litoral Catarinense.
Trabalhei dez anos como jornalista, na função de repórter fotográfico. Foi justamente numa pauta sobre tatuagens que conheci o tatuador argentino Diego Fernandez. Conversando com ele, consegui viabilizar uma espécie de curso básico. A essa altura da vida, eu não tinha a menor pretensão de ser um tatuador; apenas queria matar a curiosidade de infância de saber como eram feitas as tatuagens.
Acontece que para saber realmente como eram feitas, teria que praticar; fazer, nem que fosse o caso, apenas uma tatuagem. Mas queria e teria que colocar a tinta na pele de alguém de uma maneira que não saísse. E foi aí que fodeu…
Da mesma maneira que havia sido hipnotizado pela magia da fotografia, e feito disso minha profissão até então, a tatuagem me arrebatou. Fui aprendendo tanta coisa em tão pouco tempo, que era impossível não ficar com ainda mais dúvidas e querer saber mais. E uma coisa levava a outra, era um ciclo vicioso de aprendizado e dúvidas que se transformou em uma nova carreira.
Hoje continua assim: uma busca constante por aprendizado e evolução numa profissão maravilhosa, afinal de contas, passo o dia pintando, ouvindo música e trocando ideias com os colegas.
FTC: Como você define a sua arte?
Tavarismo. Tudo o que faço é, em certo grau, uma representação de minhas vivências. Mesmo os trabalhos feitos sob encomenda (sejam tatuagens, aquarelas ou óleo sobre tela) carregam a visão do autor sobre a vontade do cliente. Como não frequentei a academia de Belas Artes, desenvolvi minha própria maneira de estudar e chegar aos resultados pretendidos.
E esse caminho (que iniciou na infância com giz de cera, desenvolveu-se com óleo sobre tela, passou pela fotografia jornalística e chegou na tatuagem) fez com que o trabalho que desenvolvo hoje na pele das pessoas pareça mais com uma pintura que com um desenho colorido. Não me prendo a regras e trato cada projeto como único. As pessoas dizem que meu trabalho transita entre o Realismo e a Aquarela, mas sem se enquadrar em nenhum deles.
Eu busco texturas e movimentos de pincéis, volumes e perspectivas típicas de pinturas quando faço uma tatuagem. Vejo a tatuagem como uma pintura. Obviamente, preciso de pessoas para tatuar e o respeito empregado a pessoas e às telas são totalmente distintos. Discordo terrivelmente quando um tatuador diz que pinta telas vivas. Ou ele nunca pintou uma tela ou não tem a menor ideia do que está fazendo. Pessoas têm vontades, sentimentos e chatices; telas não.
Com o passar do tempo, os clientes têm se apresentado mais informados e, hoje, a maioria das pessoas que atendo apenas sugerem a região do corpo e o tema que desejam ter tatuado. Isso não faz delas telas vivas, isso faz com que eu as respeite muito mais pela demonstração de respeito que têm pelo trabalho que realizo. Mesmo que ainda não seja o ideal, é bem melhor que na época em que queriam ser ‘diretores de arte’ das tatuagens.
3 – Com o que você se inspira?
Com a genialidade subversiva. Mentes que desvendaram partes do funcionamento do universo.
4 – Qual foi sua primeira tatuagem em um cliente?
Sempre temos os amigos para começar com coisas loucas e superpretensiosas. Mas, em cliente mesmo, dentro de um estúdio, foi um Kanji (caracteres da língua japonesa). A cliente sabia que eu estava começando e o tatuador responsável pelo estúdio supervisionava o que eu fazia.
5 – Está tocando algum projeto especial ou específico atualmente?
Sempre tem mais de uma coisa acontecendo ao mesmo tempo. Agora, por exemplo, tem uma série de pinturas que estou finalizando chamada Demônios Brasileiros, tem os vídeos para o canal Tavares Tattoo no YouTube, as encomendas de retratos a óleo e a programação da agenda de viagens e guest spot para o próximo ano.
Pretendo fazer temporadas em outras cidades/países e estou analisando os convites para tentar viabilizar isto. Também estamos desenvolvendo o projeto para uma exposição. Além, claro, de responder a entrevista para o FTC.
6 – Uma frase que você carrega para a vida?
Com três coisas não se abre mão da qualidade em função do preço: comida, arte e papel higiênico.
7 – Cinco coisas que não consegue viver sem?
Assim, à queima-roupa, o lado sentimentalista assume e digo que ‘as cinco coisas que não viveria sem’ seriam: minha esposa Vanessa, minhas gatas Anita e Emília, tintas, pincéis e livros. Obviamente, num pensar mais pragmático, diria que água, oxigênio, gravidade, alimentos e Sol.
Realismo
Ilustrações em aquarela
Ateliê de pinturas
Todos os agendamentos são realizados, exclusivamente, via site. No Facebook: /tavarestattoo. No Instagram: @tavarestattoo. YouTube: /tavarestattoo