Tatuadora australiana cobre gratuitamente cicatrizes de pessoas que já se automutilaram, deixando o passado para trás
A tatuadora australiana e aprendiz Whitney Develle oferece seu trabalho de graça para cobrir cicatrizes de pessoas que passaram por algum distúrbio mental, como a automutilação, permitindo que iniciem um novo capítulo junto ao seu corpo, parem de sofrer e coloquem seu passado para trás.
“Desde jovem (11-12) eu tenho sofrido síndrome de borderline, ansiedade e depressão. Eu passei por abusos físicos, o que me levou a me automutilar e começar a beber como uma maneira de lidar com o problema. Se eu pudesse dar um conselho seria esse: nunca desista. Há coisas boas lá fora. Eu sei que às vezes a gente se sente inútil, mas você pode se recuperar! É difícil, mas vale a pena. Após 10 anos dos piores momentos da minha vida, eu posso finalmente dizer que estou recuperada. Eu ainda tenho dias ruins, mas você só tem que se levantar da cama e permanecer forte. Coloque-se em primeiro lugar sempre e não se preocupe com o que as pessoas dizem ou pensam!” – Anônimo
A automutilação é definida como qualquer comportamento intencional envolvendo agressão direta ao próprio corpo sem intenção consciente de suicídio. O ato, considerado um distúrbio psicológico, geralmente têm como intenção o alívio de dores emocionais, ao causar ferimentos em si mesmo. Esses ferimentos pode assumir muitas formas, como cortar a própria pele, bater em si mesmo, arranhar-se ou queimar-se, e é bem comum entre jovens e adolescentes que sofrem pressão psicológica.
Após a automutilação, a pessoa se sente aliviado daquela angústia que o afligia. Mas as cicatrizes permanecem. E mais tarde, muitas vezes se revelam vergonhosas ou constrangedoras. Foi justamente pensando nisso, que essa aprendiz de tatuagem em Brisbane, na Austrália, se ofereceu para cobrir essas marcas com belos desenhos, permitindo que jovens parem de sofrer, iniciem um novo capítulo junto ao seu corpo e coloquem seu passado para trás.
Whitney Develle é a responsável pelo The Scars Project. Ao postar sua ideia nas redes sociais, ela recebeu de imediato uma resposta extremamente positiva. Agora, ela fará de graça, 50 tatuagens em 50 vítimas. Isso fez tanto sucesso que todos os horários como voluntária já estão preenchidos. Quem quiser participar após o termino do projeto, recebe um desconto.
“Eu decidi fazer isso para aumentar a consciência das pessoas sobre as doenças mentais, e mostrar que elas tem opções de cobrir esse seu passado, uma delas é através da tatuagem. Eu quero que essas pessoas se sintam confiantes de novo, bonitas de dentro para fora, sejam capazes de deixar o passado para trás e se aventure a viver uma vida mais positiva. A minha oferta é para as pessoas que estão totalmente curadas, que há anos não se machucam mais. Se você passa por essa situação, por favor, tenha a coragem de falar com um amigo ou um membro da família e procure ajuda profissional”.
O trabalho de Whitney é feito em blackwork. O resultado final é perfeito. Atualmente, ela faz parte do time de artistas do Estúdio Garage Ink na Austrália. Confira um pouco dessas coberturas incríveis e suas histórias:
“Meu nome é Kaitlin. Quando eu tinha 15 anos eu passei por um trauma que me levou a ter Transtorno de Estresse pós-traumático. Como eu era muito jovem, eu não sabia como lidar com os meus problemas. Isso me levou a eu ter um ódio de mim mesmo e a querer deixar este mundo. Todas as tentativas falharam. Agora, eu estou presa, com cicatrizes que constantemente me lembram do pior momento da minha vida. Levei 6 meses para me sentir confortável o suficiente para caminhar sem mangas compridas. Eu fico me dizendo o tempo todo que isso não me pertence mais, as cicatrizes no meu corpo não devem decidir a pessoa que eu sou hoje. Meu único arrependimento é não ter recebido ajuda adequada mais cedo e não ter escutado a minha família. As pessoas estão aqui para te ajudar porque te amam, mesmo que você não sinta isso.”
“Meu nome é Shayna Taylor. Comecei a me automutilar com a idade de 12 anos após ver isso online. Eu queria a atenção da minha família. Me tornei dependente como um mecanismo de defesa. Eu fiquei em depressão e tinha certeza que a qualquer momento algo ruim iria acontecer. Depois de um tempo, isso se tornou algo diário e as cicatrizes me lembravam negativamente o que eu estava fazendo com a minha vida. Após 8 anos, eu finalmente quebrei esse ciclo. Aceite ajuda! Você está aqui hoje porque é forte. As pessoas se preocupam com você, até mesmo estranhos. Assuma o apoio de outras pessoas, mas lembre-se que você tem toda a força dentro de você. Tome atitude para fazer mudanças positivas na sua vida!”
“Como foi chegar ao ponto onde você se prejudica a si mesmo fisicamente? A pergunta foi feita muitas vezes, vindas de olhos que se curvavam para as minhas cicatrizes. Eu estava sendo julgada aos 16 anos. Você está bem? Você precisa de ajuda? O que está errado? Depois de muitos anos de depressão, ansiedade, distúrbios alimentares, admissão hospitalar, tentativa de suicídio, eu não via nada bom na vida. Eu não queria a vida. Por que eu escolhi cobrir minhas cicatrizes com 28? É uma parte de algo que eu lamento, as cicatrizes do meu corpo. Eu me tornei mais forte ao acreditar em mim e ao saber o meu valor. Eu não preciso de ninguém mais me julgando. Eu sei da minha história e acredito que eu sou mais forte do que isso. Nunca tenha vergonha de chegar em alguém, você não está sozinho. A primeira pessoa a me ajudar foi meu professor de dança. Não há problema em ser fraco. Diga a alguém como você se sente. Há pessoas que não vão julgá-lo! Você é mais forte do que você acredita!” – Anônimo
“Eu comecei a me mutilar quando eu tinha 11 anos. No momento eu estou com 19 indo para os 20. Todo o meu braço esquerdo está coberto de cicatrizes, todos os quais me lembram de cada um dos meses desde essa idade. Eu também tenho manchas e cicatrizes em toda a minha coxa, punho direito, e em outros lugares. Tenho progredido mais e mais do que poderia imaginar, mas ainda estou impedida pela lembrança física do meu passado. Sou encarada na rua, as pessoas dão risadas, me zombam. Isso me assusta. Estar na rua me assusta, eu me sinto uma peça em um museu público, eu não quero ser visto. Eu não sou mais essas cicatrizes. Eu só desejo que meu empregadores, familiares e estranhos pensem da mesma forma. Eu só quero me sentir relativamente normal. Minha família quer que eu faça remoção a laser. Eu não quero machucar meu corpo mais, eu quero aprender a amar a minha pele de outra maneira. Eu quero me olhar, e em vez de vergonha, dor e auto-aversão, quero testemunhar quão longe eu fui, sou, e que ainda estou aqui, nesta mesma pele, mas uma pessoa muito diferente. Eu não consigo elogiar o suficiente essa incrível iniciativa.” – Anônimo
“Meu nome é Daisy e eu tenho 20 anos de idade. Eu comecei a automutilar aos 12 anos, e também fui diagnosticada com depressão e ansiedade. É difícil dizer o que me levou a isso, mas eu encontrei uma ‘solução’ para quando eu me sentia como se estivesse prestes a explodir. Em seguida, tornou-se um vício. Aos 15 anos eu desenvolvi um transtorno alimentar que apenas contribuiu mais para este problema, e eu tentei o suicídio logo após o meu aniversário de 16 anos. Aos 17 anos eu parei de machucar e não olhei para trás, não havia nenhuma razão real para isso, exceto que eu só descobri que isso não me pertencia mais. Os psicólogos têm me ajudado muito ao longo dos anos, e gostaria de encorajar qualquer pessoa que sofra para procurar ajuda. Pode demorar encontrar alguém que você se sinta confortável o suficiente para realmente conversar abertamente, mas procure. Eu procurei a Whitney não porque eu tinha vergonha, mas porque eu estava pronta para seguir em frente com esse capítulo da minha vida. Agora eu recebo comentários sobre o quão bela é a minha tatuagem, e as cicatrizes por baixo são virtualmente invisíveis. Eu não poderia estar mais feliz com o resultado.”
No Brasil, alguns artistas já tiveram a mesma iniciativa – como Flávia Carvalho de Curitiba, que cobre gratuitamente cicatrizes deixadas pela violência doméstica, Jorge Mitsunaga, que atende mulheres que sofreram de câncer de mama e não cobra nada para fazer a reconstrução da auréola em forma de tattoo, além do americano projeto P.INK.
-Se você sofre de algum desses sintomas, por favor procure ajuda.
Via.
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