Tinta preta, precisão nos traços e muitos desenhos incríveis. Essas qualidades são facilmente percebidas ao bater o olho no trabalho de Diogo Ferrari, de Campinas, SP. Hoje trazemos um pouco sobre sua história, dedicação, esforço e claro, talento. Confira:

Diogo começou a trabalhar como mágico em bares e festas com uns 16, 17 anos. Nesse período tocava também com uma banda em casas noturnas. Depois, foi vendedor numa loja do shopping, seu primeiro emprego registrado. Não durou muito tempo naquele ritmo de trabalho, e logo que pediu as contas foi com um amigo em um estúdio de tatuagem. Ficou olhando o processo e por coincidência, o dono do estúdio disse que estava precisando de alguém pra ficar na recepção. Aceitou a proposta na hora e uma semana depois estava cuidando da administração do estúdio todo.

“Eu já pirava nesse lance de tatuagem, tinha duas, e desde pequeno eu olhava pros adultos tatuados e falava pra minha mãe que ia ser assim. Ela não botou fé. Mas, convivendo no meio, não resisti e pedi pra que me ensinassem alguma coisa, pra que eu começasse a tatuar também. Apresentei meus desenhos, que na época eram muito ruins, e me disseram que eu não ia conseguir, que era melhor ficar na administração e várias coisas. Isso foi o que faltava pra eu correr atrás de ser um profissional de verdade”.

Diogo começou a estudar desenho sozinho, por tentativa e erro. Na época, mais erros, na verdade. Comprou uma maquininha e uma fonte, mais 3 tons de tinta e foi atrás de uma cobaia. Por incrível que pareça, sua mãe se ofereceu e ele não quis. Ela insistiu, ele não pode negar e a tatuou. Sua primeira cliente carregava uma responsabilidade enorme! Isso foi em 2008.

Depois disso, vieram os amigos, parentes, vizinhos, cobrando nada ou muito pouco pela “arte” que fazia. Trabalhava de dia no estúdio e tatuava de noite na casa da sua mãe. Mesmo assim, acabou de estudar por insistência dos seus pais e tocava a faculdade. Se formou como publicitário, mas nunca exerceu.

“Sempre me imaginei trabalhando somente com tatuagem preta/cinza. Todas minhas tatuagens são pretas (menos uma) e eu sempre tive preferência por fazê-las também. Na verdade, na minha vida sou monocromático. Muitas cores me confundem, prefiro vestir roupas que sejam assim também.”

Quando decidiu realmente fazer um estilo específico, foi se especializando somente no que queria. Foi como começar novamente do zero. Viu que fazia muita coisa errada, saiu do estúdio que trabalhava, alugou uma sala comercial e ficou trancado ali sozinho por um ano inteiro.

“Foi o maior aprendizado que eu pude ter em todo esse tempo. Até uma questão de auto-conhecimento rolou, foi interessante. Sempre tive muito, muito foco quando quis aprender alguma coisa, é quase que um transe. Quando coloco na cabeça uma ideia, vou até o fim, faço o possível e o impossível pra aprender mais e não ser apenas mais um. Meu objetivo é ser referência, assim como outros artistas são pra mim.”

Depois desse período trancado, voltou a trabalhar em estúdios em Campinas e São Paulo.

“Foi uma honra me receberem em Sampa, eu comecei a ver que meu esforço estava começando a valer a pena. A cidade me abriu portas, aprendi com os tatuadores que também trabalhavam lá. Fiquei por dois anos entre Campinas e São Paulo, mas agora estou somente em Campinas-SP, por conta da minha agenda e pela logística de morar na cidade. Quando recebi meu primeiro cliente de outro estado, me senti muito grato e assustado em como a internet propaga as coisas, mas feliz por ter essa ferramenta me ajudando.”

Diogo conta que sempre procura inovar, que não vive sem música, tattoos, comida japonesa, livros e café.

Busca muita referência nova o tempo todo, pesquisa objetos, azulejos, arte antiga, arte nova, ornamentos, desenhos de outros artistas que admira e em até livros de romance. O artista, que cria em blackwork, linework, acredita que a sua influência vem de todas essas informações, da vida que leva, das experiências que vivencia. Não poderia estar mais certo.

“Carrego muitas frases e inspirações pela vida, principalmente tatuadas em mim. Uma delas é a que me inspira com frequência, encontrei no livro Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa: ‘Viver é perigoso, carece de ter coragem’. Tem muito a ver com a minha história.”