Poucas horas a oeste de Paris, esta charmosa região conta com uma combinação perfeita: inúmeros castelos, cidades históricas, lindas paisagens e gastronomia de excelente qualidade
O que vem em sua mente ao pensar em um “cenário de conto de fadas”? Castelos imponentes, com jardins impecáveis, em meio a verdejantes campos provavelmente formariam a resposta imagética à questão. Se quiser ir além na imaginação, completaria com vilas e cidadezinhas histórias construídas às margens de um rio. Pois não é que tem um pedaço da França que é a tradução perfeita desse quadro? E fica a uma curta distância de Paris! Ideal para uma road trip, uma viagem romântica ou até mesmo uma aventura em família, o Vale do Loire, conhecido como “a região dos castelos”, é um dos trechos mais encantadores e autenticamente franceses que você pode conhecer.
São tantos castelos espalhados por toda a área, que seria possível passar semanas explorando cada um deles. Mas como sabemos que o tempo de um viajante geralmente é mais curto, preparamos um roteirinho com o melhor do Vale do Loire para você aproveitar em até quatro dias. Embora dê para acessar as principais cidades da região (como Orléans e Amboise) de trem a partir de Paris, o ideal é que o itinerário seja percorrido de carro, única maneira de acessar os castelos mais isolados. Para os mais esportistas, dá para fazer o roteiro de bicicleta também, mas aí o tempo de deslocamento obviamente fica maior.
DIA 1 – DE PARIS A ORLÉANS
Tomando a capital francesa como ponto de partida, em menos de 2 horas você já se aproximará dos primeiros castelos do Vale do Loire. A região tem esse nome por estar espalhada ao longo do Rio Loire. É nas margens dele que ficam as principais cidades. Pouco antes de chegar em Orléans, nossa primeira parada, você pode parar para conhecer o Château de Chamerolles.
Construído no início do período renascentista, no Século XVI, e com alguns fortes traços remanescentes da Idade Média, como a existência de uma espécie de forte ao redor dele, o Château de Chamerolles nunca pertenceu à realeza. O responsável pela obra foi o governador de Orleàns na época, que também trabalhava para o Rei Luís XII. O castelo passou pelas mãos de outros governantes locais e de algumas famílias ricas, até ser destruído pelos nazistas durante a Segunda Guerra. Após anos de abandono, foi restaurado no final do Século XX pelo governo local, e hoje abriga em suas dependências um interessante museu que conta a história do perfume e dos hábitos de higiene. Vale destacar também seu agradável jardim.
Chamerolles não é dos castelos mais conhecidos da região, nem dos mais suntuosos. Mas justamente por isso, é uma forma bacana de começar o passeio pelo Vale do Loire. Sendo menos cheio que os demais, e o primeiro a ser visitado, acaba funcionando como uma boa introdução ao que virá a seguir.
A poucos quilômetros de Chamerolles, fica a cidade de Orléans, porta de entrada para o Vale do Loire, onde sugerimos que você se hospede na primeira noite. Dedique o resto do dia a um passeio sem compromisso por ela. Situada às margens do Rio Loire, tem um Centro Histórico charmoso e muito bem conservado.
O principal destaque vai para a Catedral de Orléans. Esta imponente construção em estilo gótico medieval, datada do Século XIII, lembra a Catedral de Notre-Dame de Paris. Também é famosa por ter sido palco de uma missa da qual participou Joana d’Arc durante a Guerra dos Cem Anos. A jovem protegeu a cidade durante a invasão inglesa, e hoje, os vitrais da catedral recontam a história da heroína francesa.
DIA 2 – CHAMBORD, CHEVERNY E BLOIS
A menos de uma hora de Orléans, fica a primeira parada do dia, e também o principal cartão-postal do Vale do Loire. Localizado dentro de um enorme parque, com uma área total de mais de 50 quilômetros (só para chegar com o carro da entrada dele até o estacionamento do castelo, dirige-se um bocado), a construção até hoje é o grande símbolo da região, aparecendo em 10 entre 10 materiais de divulgação do destino.
Combinando formas medievais francesas com estruturas clássicas italianas, o Castelo de Chambord, construído no século XVI sob forte influência do Renascimento, impressiona já do lado de fora, devido à sua imponente fachada, em meio a belos jardins. E ao adentrar sua parte interna, verificamos traços vivos da arquitetura renascentista. O maior exemplo é a escadaria em formato de dupla-hélice, peça central do palácio.
Sugerimos almoçar um lanche rápido nas imediações do castelo, para assim otimizar o tempo e seguir para a próxima atração do roteiro: o Château de Cheverny. A apenas 20 minutos de Chambord, este castelo é o mais lúdico e interativo de toda a região. O lugar ideal se você estiver viajando com crianças (e também muito indicado se for apenas um grupo de adultos, já que toda a propriedade é linda, e os jardins são um convite a um passeio romântico).
Construído no começo do Século XVII por Henri Hurault, Conde de Cheverny e também Tenente General do exército francês e Tesoureiro Militar do Rei Luís XI, o castelo pertence até hoje aos descendentes do proprietário original. Poupado durante os ataques à região no período da Revolução Francesa e da Segunda Guerra, a propriedade é uma das mais preservadas do Vale do Loire.
Da marcante fachada, em estilo clássico renascentista, ao seu interior com ambientes ricamente reproduzidos, o Castelo de Cheverny é um encanto! Em determinadas épocas do ano, como na Páscoa, ele ganha inclusive uma decoração temática.
Aliás, uma curiosidade bem interessante é que Cheverny serviu de inspiração para o Château de Moulinsart, de As Aventuras de Tintim. Reconhecem a semelhança?
É na parte externa da propriedade, aliás, que fica um museu interativo sobre Tintim e sua turma. Em algumas salas, é possível viver uma experiência imersiva nas histórias do famoso personagem fictício, um curioso jornalista e viajante belga, sempre na companhia de seu cãozinho, Milu.
Outros pontos imperdíveis em Cheverny são os canis da guarda real, com mais de 100 cães de caça; e seus maravilhosos jardins. Entre março e abril, aliás, eles ganham a ilustre presença de lindas tulipas.
Saindo de Cheverny, mais 20 minutos de estrada levam até a cidade de Blois, próximo ponto de pernoite. Esta é mais uma das charmosas e históricas cidades do Vale do Loire, ótima para bater perna e comer em um bom restaurante (como o excelente La Creusille, à beira do Rio Loire, onde fizemos uma das melhores refeições de toda a viagem.
Bem no meio do Centro Histórico, está o Château de Blois, que serviu como residência de vários reis da França. Esta grande propriedade é formada por diferentes edifícios ao redor de um grande pátio. As construções foram feitas entre os séculos XIII e XVII, misturando influências medievais e renascentistas em sua arquitetura.
Se você estiver em Blois entre os meses de abril e setembro, poderá ver o incrível show noturno de luzes e projeções que ocorre diariamente durante este período no castelo. Na apresentação, que conta com aparelhos de tradução simultânea em vários idiomas (inclusive português), são recontadas as histórias e os importantes eventos ocorridos na propriedade ao longo da história. Após servir como moradia de diversos reis franceses no período imperial, o castelo foi saqueado durante a Revolução Francesa, e deixado em completo estado de abandono até ser restaurado muito tempo depois.
DIA 3 – AMBOISE E O EPICENTRO DO RENASCIMENTO FRANCÊS
Saindo de Blois, após 35 minutos na estrada, chega-se a Amboise, cidade-síntese do Vale do Loire, que merece pelo menos uma noite de hospedagem, já que conta com excelentes opções de hotelaria. Este pequena e charmosíssima municipalidade às margens do Rio Loire serviu, durante a monarquia francesa, como local de moradia da Corte – em especial do Rei Francisco I, responsável pelo convite e pela vinda de Leonardo da Vinci para a região. O artista e inventor italiano viveu seus últimos anos em Amboise.
Da Vinci ficou confortavelmente instalado no Castelo de Clos Lucé, construído em meados do Século XV, no Centro de Amboise. O italiano transformou o castelo em sua morada e também em seu local de trabalho. A construção, muito bem preservada, apresenta elementos renascentistas como suas chaminés, e a fachada com tijolos cor-de-rosa e pedras brancas.
Hoje aberto para visitação, o Castelo de Clos Lucé permite uma verdadeira imersão na vida e obra de Da Vinci. Você pode andar pelos seus cômodos (inclusive pelo quarto onde o criador italiano morreu), vendo ainda hologramas representando o artista, e também maquetes com várias de suas criações como engenheiro – tais como protótipos de um antepassado do helicóptero, de um carro de combate e de uma escavadora. Anexo ao castelo, um agradável parque permite uma tranquila caminhada em meio a reproduções de criações de Leonardo.
Reza a lenda que uma passagem subterrânea secreta ligava o Château du Clos Lucé ao Château d’Amboise, residência oficial da realeza francesa, permitindo assim encontros secretos entre o Rei Francisco I e Leonardo da Vinci (a natureza de tais encontros permanece um mistério). Fato é que é no Castelo Real de Amboise (mais precisamente dentro da Capela de Saint-Hubert) que está o túmulo do multifacetado artista italiano.
Construído no topo de uma colina com vista para o Rio Loire e para o Centro de Amboise logo abaixo, o castelo teve sua construção iniciada no Século XI, tendo sido confiscado pela coroa francesa no Século XV. Foi a realeza que ampliou a construção e fez algumas modificações em sua arquitetura, adicionando alguns elementos renascentistas, como o bonito jardim que até hoje enfeita a propriedade.
O Castelo de Amboise foi seriamente danificado durante as Guerras Religiosas, e posteriormente, durante a Revolução Francesa e a Segunda Guerra, quando houve a invasão nazista. Após algumas obras de restauro, recuperou parte de sua imponência, e ainda hoje se destaca no meio da paisagem de Amboise. Andar pela propriedade permite observar lindas paisagens, aprender um pouco de história, e ainda conhecer o túmulo de Da Vinci.
Confira também a Rota do Renascimento Françês no Vale do Loire
DIA 4 – CASTELO DE CHENONCEAU E CHEGADA EM TOURS
A apenas 20 minutos de carro de Amboise, fica outro tesouro do Vale do Loire. Além de ser o mais cênico de todos os castelos da região, com as famosas arcadas construídas sobre o Rio Cher, o Château de Chenonceau, também é o que tem a história mais interessante. Não à toa, é o segundo castelo mais visitado da França, perdendo apenas para o Palácio de Versalhes.
Apelidada de “Castelo das Sete Damas”, a propriedade teve influência direta de sete importantes mulheres em sua construção e posteriores reformas, e também na instalação de seus jardins. O local serviu ainda como hospital de campanha durante a Primeira Guerra Mundial, e esta parte mais recente de sua longa história é contada em um pequeno museu num anexo ao lado do edifício principal.
Uma visita a Chenonceau não é completa sem uma refeição no L’Orangerie, elegantérrimo restaurante localizado dentro dos domínios do castelo. Dependendo do horário da visita, você pode almoçar ou tomar o chá da tarde servido no local. Só não deixe de separar umas duas horinhas do dia para ter essa inesquecível experiência gastronômica.
De estômago forrado, é hora de seguir cerca de 35 minutos até a última parada do roteiro. Tours é uma interessante mistura de Centro Histórico super bem preservado com a vibração de uma cidade universitária. No trecho conhecido como Vieux Tours (“Velha Tours”), ficam as famosas casas medievais geminadas que se tornaram o cartão-postal da cidade. Ao redor dali, na praça e nas ruelas de paralelepípedo em volta, está o grande charme de Tours. Também nesta região fica o bom mercado local (Les Halles de Tours), ideal para comer um sanduíche na baguete preparado na hora; e não muito longe dali, está a Catedral de Tours, em estilo medieval.
DIA 5 – CASTELOS DE AZAY-LE-RIDEAU E VILLANDRY
Além de bater perna por Tours (fora o Centro Histórico, a cidade também conta com boas ruas de comércio), o último dia do roteiro seria dedicado a dois castelos imperdíveis: Azay-le-Rideau e Villandry.
Azay-le-Rideau é um charmoso castelo localizado no meio da cidade de mesmo nome. Construída entre 1518 e 1527, e edificada sobre uma ilhota do Rio Indre, a propriedade pertenceu a vários entes privados, até ser adquirida e reformada pelo governo francês no Século XX. Atualmente, o local está aberto para visitação, e é uma das atrações mais simpáticas e tranquilas para conhecer no Vale do Loire, contando ainda com um agradável jardim em volta do palácio. Cabe destacar o caráter interativo de algumas de suas salas, com objetos que ganham vida conforme o visitante se aproxima. Em algumas noites de verão, há um show de luzes e projeções nas paredes do castelo.
A apenas 15 minutos de carro de Azay-le-Rideau, fica o Château de Villandry. Concluído em 1536, foi o último dos grandes castelos construídos na região durante o período renascentista. No passado, a propriedade pertenceu a pessoas ligadas ao governo, até ser adquirido em 1906 pelo Dr. Joachim Carvalho, bisavô dos atuais proprietários, responsável por salvar o palácio da demolição e por ter criado os jardins que lá existem até hoje, em total harmonia com a arquitetura renascentista do palácio.
E são os lindos jardins em estilo renascentista a grande atração de Villandry. É possível passar horas e horas apenas observando a bela paisagem e caminhando tranquilamente em cada ala dos jardins – há desde um pequeno labirinto até um jardim de ervas e uma horta. Sabe aqueles lugares que você pode visitar em qualquer época do ano? Villandry é assim – a paisagem muda a cada estação, e não sabemos dizer qual é a época em que ela fica mais bonita. Veja, por exemplo, as fotos tiradas em diferentes visitas que fizemos, na primavera e no outono. Em algumas noites de verão, há um lindo show de luzes e projeções nas paredes do castelo.
Ideal tanto para uma viagem de lua-de-mel, quanto para quem quer conhecer mais a fundo a história francesa, ou para quem simplesmente curte apreciar paisagens encantadoras, o Vale do Loire é uma das regiões mais autênticas da França. Com um misto de castelos, campos, cidadezinhas charmosas, gastronomia de ótima qualidade e boas opções de hospedagem, e a uma curta distância de carro de Paris, é o lugar ideal para um roteiro inesquecível por um dos trechos mais especiais da Europa.
Ah, e se tiver mais tempo de viagem, uma boa ideia é juntar com alguns dias na região vizinha da Normandia, adotando o roteiro que sugerimos aqui.
GUIA PRÁTICO – VALE DO LOIRE
QUANDO IR: o ano inteiro, mas se pudéssemos recomendar uma época, seria o verão (apesar de ser o período mais cheio do ano, a região nunca fica tão abarrotada como Paris), seguido do outono e da primavera. Inverno tem lá seu charme, mas estará bem frio – e os jardins perdem boa parte do encanto.
VALE DO LOIRE – ONDE SE HOSPEDAR
Assim como há uma grande diversidade de coisas para fazer e lugares para visitar na região do Loire, a hotelaria também é bem ampla. Como fizemos nossa viagem de carro parando cada noite em uma cidade, tivemos três experiências diferentes: Empreinte Hotel, um hotel high end no centro histórico de Orleans; Château des Tertres, um château histórico, tradicional e afastado da cidade de Blois; e Hôtel Mirabeau, uma estadia moderna e mais acessível.
ORLEANS
Encantador e muito bem localizado, o Empreinte Hotel fica às margens do rio Loire, que nomeia a região, e no centro histórico da cidade. Andar pelas ruas da redondeza é uma delícia e a catedral de Orleans é imperdível. Os quartos são amplos, bem confortáveis e quentinhos (venta bastante por ali), e o café da manhã vai te fazer querer ficar por mais tempo (nós quisemos).
ONZAIN
Uma experiência francesa de verdade, especialmente no Vale do Loire, inclui a estadia em um dos châteaux da região. A propriedade é mais afastada, o que garante silêncio, e inclui uma floresta nos fundos. No Château des Tertres (próximo de Blois), o prédio em si é lindo e parece ter saído de uma cena de filme. Os donos (um casal) cuidam de tudo – do check-in ao café da manhã – e são super simpáticos. Definitivamente vale a pena!
TOURS
Nossa última noite foi em Tours, uma cidade universitária e muito linda. Como sempre, vale caminhar pelas ruas do centro histórico, assim como pelas avenidas próximas ao hotel (dá mais ou menos 30 minutos de caminhada entre o centro histórico e o hotel). O Hôtel Mirabeau é mais simples e menor, especialmente quando comparado com os outros dois, mas tem um jardim que vale ser visitado, além do conforto que todos nós gostamos.
O FTC viajou com o apoio da Air France e do Escritório de Turismo do Vale do Loire. Esse post é resultado de um projeto exclusivo, visando trazer aos nossos leitores um conteúdo único e com olhar diferenciado sobre um dos principais destinos turísticos do mundo. O FTC tem total controle editorial e opinião própria sobre o conteúdo publicado.
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