A Xilogravura é uma arte milenar que marca a identidade da cultura do Nordeste do Brasil e retrata o rico imaginário da cultura popular a partir de temáticas religiosas, políticas e até eróticas. A técnica consiste em talhar um pedaço de madeira usando facas e canivetes bem amolados.
No Nordeste, normalmente a madeira utilizada é a da árvore cajazeira, por ser abundante na região, macia e de fácil manuseio. Após talhada, a madeira recebe uma camada de tinta normalmente preta e é utilizada como matriz para estampar novenários, almanaques, folhetos de literatura de cordel – outro clássico da cultura nordestina, rótulos de aguardente, cartazes e dentre outros.
A arte em xilogravura começou a popularizar no Brasil e ganhar status de arte entre as décadas de 60 e 70, quando estudiosos e pesquisadores passaram publicar álbuns e trabalhos acadêmicos sobre o tema.
Pressupõe-se que a xilogravura brasileira tenha origem ligada à milenar da cultura indiana que usava a técnica para estamparias decorativas e religiosas, porém não é possível identificar a origem da exata no Brasil ou quando ela começou a ser utilizada, mas acredita-se que ela tenha sido trazida pelos missionários portugueses, ensinada aos índios e desde então tem se multiplicado, assumido novas formas e contado a história de um povo cheio de imaginação e de cultura.
Dentre os principais artistas da xilogravura nordestina, muitos ainda continuam na ativa, como J. Borges, e J. Miguel. J.Borges é um dos mestres do Cordel com mais de 200 publicações e um dos artistas mais celebrados da xilogravura nordestina com reconhecimento nacional e internacional, sendo considerado desde 2005 um Patrimônio Vivo de Pernambuco.
Borges entalha cenas da cultura e do cotidiano nordestino, retratando as tradições as alegrias, mas também a pobreza e as mazelas do povo.
J. Miguel recentemente colaborou com uma coleção de móveis da antiga loja da blogueira e empreendedora criativa Ana Medeiros, talhando madeiras que faziam parte dos móveis comercializados e é aí que começa o encontro lindo do tradicional e do contemporâneo.
A cena tem sido tomada também por jovens artistas nordestinos e descendentes de nordestinos que honram suas raízes dando a elas asas de imaginação para irem ainda mais longe.
É o caso do designer pernambucano Perron Ramos, que comanda a loja Estilo Xilo e perfis em redes sociais com o mesmo nome.
Além de produzir obras inspiradas nas xilogravuras nordestinas, Perron valoriza a cultura local ao usar seus conhecimentos em comunicação e as redes para promover não só seu trabalho e as xilogravuras, mas também repentes, literatura de cordel e vários aspectos da cultura de sua região pelo Brasil e mundo afora.
A ilustradora pernambucana Rafaela Melo também não nega as raízes e desenvolve um trabalho com estilo único, mesclando de referências que envolvem muita delicadeza e traços da xilogravura, muitas vezes representando meninas com características bem brasileiras.
Já a pintora Ju Amora, filha de nordestino, se aventura com pinceladas que remetem à arte de talhar a madeira.
Ju cria banquetas com ilustrações em preto e branco e desenvolve trabalhos especiais, como na parceria com a Toda Coisinha (comandada por outra descendente de um nordestino), que rendeu quadros e colares com temáticas bem regionais.
É bonito de ver quando o tradicional se une ao contemporâneo valorizando ainda mais o que já é precioso, ganhando asas sem perder as raízes.
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