O Mundo é o Meu Quintal: diário de viagem ilustrado traz percepções sobre a vida e a cultura em outros países

O mundo é meu quintal

As viagens de Sussie etérea design o mundo é meu quintal

Tatiana Vieira é designer gráfico e ilustradora que tem a mochila sempre nos ombros, olhos grandes, tal qual o mundo, que considera o seu quintal. Etérea por natureza, está sempre alçando voos. Atualmente está em Köln, Alemanha. Conforme viajava e mudava de casa, as descobertas foram mudando, ela foi se surpreendendo, observando e achou bacana dividir sua experiência com os amigos e família em forma de tirinhas. A ideia se espalhou, cresceu, e hoje, o resultado pode ser visto em seu projeto “O Mundo é meu Quintal” em “As viagens de Süssie”.

Nele, Tati fala de maneira visual sobre suas percepções de viver em outros países (sua meta), experiências e traz diversas curiosidades de onde já passou. Para saber um pouco melhor como ela começou o projeto, fizemos uma entrevista bem bacana, a qual ela nos contou sobre suas “aventuras” pelo mundo afora: ao aprender o idioma, entender como são as pessoas e os diferentes costumes e tradições. Confira:

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FTC: Tati, queria que você falasse um pouco sobre você com as suas palavras, contasse o que fazia antes e como foi parar na ilustração; 

Nossa, vi um filme agora com essa pergunta. Normalmente quando eu começo a contar, nunca fica uma prosa de dois dedinhos. Sou do Rio de Janeiro, Zona Oeste. Minha formação se fez em escola pública, então a gente se vira pra fazer tudo que há de gratuito pelos arredores, assim pensava. Comecei com teatro e dança folclórica, quando estava no ensino fundamental, daí no ensino médio fiz quatro anos de dança contemporânea. Lá descobri que eu queria desenhar figurino. Viver de arte. Mas não sabia qual era o “meu lugar”.

Então fui pra universidade fazer Produção Cultural e lá sempre acabava fazendo os cartazes [ desde a escola eu AMAVA fazer as capas dos trabalhos, maquetes, cartazes. (ok, as maquetes sempre davam briga no grupo, rs) ]. Depois de formada, fiz técnico em Moda, Turismo, Edição e Computação Gráfica e Design de Interiores. Fiz o caminho inverso, como a maioria me diz, mas, não sei qual é o caminho, rs, então desenhei o meu.

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Comecei a trabalhar em uma produtora e acumulava funções, porque eu adoro aprender e ver coisas novas. Então eu trabalhava na parte burocrática da produção, bastidores, pesquisa de figurino, assistente de fotografia para o material da divulgação, separava o clipping, e comecei a cuidar do material da produtora, antes de existir o Facebook. Criava o layout dos projetos de captação e via que era algo muito mais envolvente. Hoje, o que eu pensava para a produtora faz todo o sentido com o que temos de divulgação de marca, das ideias, do pensamento sobre algo que se ama, ao trabalhar-se naquilo. O que me faz pensar que eu estava sentindo a movimentação do mundo, no tempo certo. 

Até que em dado momento uma das minhas colegas de trabalho disse: “Garota, você fala como eles [ os diretores das peças, povo da parte de criação de cenário, fotografia ], não és criatura, és criadora! Toca teu rumo!”. Estava cursando Design Gráfico em paralelo ao trabalho de produção. Dormia de 3 a 4 horas/noite. Dormia no trabalho para poder descansar mais [ eram 5h de viagem perdidas em trânsito ]. Uma hora tive que sair e decidir refazer passos. Voltei a ser estagiária, mas em design.

Em todo trabalho que tive, acabava fazendo algo com texto, revisão. Ou falava algo que as pessoas não esperavam muito, sei lá por qual motivo. Segui a carreira normal no design, mas nunca bastava. Fiz pós em Artes Visuais, 3 semestres de Pedagogia, 2 de História, pós em Moda. E a inquietude não passava, uma fome de mundo, de ideias que não passava. Não sei se as pessoas sentem assim, mas é como fome mesmo.

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Comecei a trabalhar remoto há 3 anos, mas sempre como um paralelismo, porque eu nunca sei fazer uma coisa de cada vez e o fator grana sempre pesava. Depois passei a ganhar o mesmo ou mais e fui vendo que eu poderia ainda mais. Que não era mais grana. Era vida. Era tempo. Eram menos coisas, eram mais conversas, o intangível mais de perto. Trabalhei em uma empresa em que eu tinha a mesma fome, mas não entendiam. Eu pedia mais tarefas, pedia pra ver o que as pessoas faziam, porque eu poderia projetar soluções que eles mesmos não viam, ou precisavam, mas eu poderia criar de forma menos onerosa e a empresa ser mais humana. Como acredito que as coisas deveriam ser. 

Como não mudamos as pessoas, demiti meus chefes, explicando que não era bem o estilo deles que eu buscava para trabalhar comigo e que tinha outras ideias. Segui para outras aventuras em voo solo, mas sempre com minha equipe fiel de projetos pela Etérea Design comigo, remoto. Eu queria ver, queria contar. Eu queria. O verbo não parava.

Comecei a colecionar de tudo em um docs, um diário e isso foi me ajudando muito. Rabiscar sempre ajuda. E as coisas foram clareando, tomando forma. Descortinando na minha frente. Era simples até. Em 2015 mudei pra Alemanha, antes do meu aniversário, em abril, para poder ter a passagem de Saturno em outras terras. A Süssie era uma brincadeira meio que Amélie Poulain, mostrando aos meus pais, através de postais um pouquinho das cidades em que pisei e o meu sorriso/aceno.

Hoje trabalho remoto, tenho clientes no Brasil e os atendo por demanda, já fiz projetos pra Portugal, Irlanda, Alemanha, Inglaterra e agora estou fazendo para a Austrália. As pessoas me indicam, mas também chegam pelas buscas. É muito bom ver que pessoas de qualquer lugar podem te achar.

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FTC: Como você define a sua arte? 

Meu trabalho é como o de um repentista. As pessoas conversam comigo e eu: “aguenta aí, preciso anotar isso”, ou “pode me falar mais sobre isso?”. Um exercício meu de me aproximar, às vezes sem falar com ninguém, só observando. Outras conversando, entrevistando. Eu só queria matar curiosidades e guardar o momento em um frame. Rir depois. Fui colecionando, depois tomei coragem e comecei a postar. 

Comecei esse processo fazendo haicais [ poesia japonesa marcada por 3 versos, com contagem de fonemas, tratando sempre do presente e fenômenos da natureza, mas nem sempre as pessoas seguem essas regras e ainda criam outras ].

Nem sempre os posts são simples de entender, pois estão muito no que vivo hoje, ao aprender o idioma, entender como são as pessoas de diferentes culturas. Mas faço sobre o que acontece. São as “viagens”, seja na maionese, seja no conceito espacial mesmo.

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FTC: Com o que você se inspira? 

Em viagens eu sempre pesquiso as livrarias, bancas de jornal, papelarias, folhetos. Tudo conta. Embalagens são as campeãs também. No fim a pesquisa não é só pelo visual em si, mas pelo feeling de como as pessoas se comunicam. O que as motiva. Praças, ruas são excelentes lugares. Tudo é uma grande experiência antropológica e pesquisa histórico-filosófica. Curioso como minhas pesquisas são mais sensoriais do que visuais. 

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FTC: Qual foi sua primeira viagem que fez você abrir os olhos para o mundo? Como surgiu os postais “As viagens de Süssie”? 

Acho que foi quando fui fazer prova do curso de interiores em Joinville. Sozinha, de mochila apenas, indo para a casa de uma pessoa que eu não conhecia e virou minha amiga. Veio um como se fosse algo muito natural, familiar. Algo me disse: “agora você entendeu…”. Mas dentro de mim. Mas o turning point foi em minha primeira viagem para Londres. Nunca pensei que sairia do país, sempre pensei que era coisa de rico, fora do alcance. 

Igualmente impossível me parecia ser espontânea. Sincero e ser quem se é. Parece estranho, mas, ser diferente, seja lá o que isso signifique, é difícil de ser aceito, compreendido. Só que cada pessoa é um universo e eu tinha me esquecido disso. Precisei ser relembrada e eu simplesmente deixei fluir e fui desabrochando sem olhar pra trás. Voltei de Londres e nunca mais vacilei sobre quem eu era. 

Daí vi que era mais simples do que pensamos. Se até eu consigo, qualquer um consegue. De verdade. Qualquer coisa. O mundo passou a ser meu quintal. Um amigo me dizia isso e eu não tive como não concordar. Virou o nome do projeto: “O mundo é o meu quintal”, para os postais e imagens e os “repentes” em forma de tirinha, com o nome: “As viagens de Süssie”. E assim tudo começou a fazer sentido. Ser eu mais do que nunca.

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FTC: Está tocando algum projeto especial ou específico atualmente? 

Como a inquietude é algo que não passa, rs… Sim. A Süssie começou com os postais, hoje mora em lojinhas e pode-se, inclusive, dormir com um edredom com estampa dela. Isso é de enorme alegria. Mesmo. 

Mas pesquisar sobre o motivo pelo qual as pessoas acordam todos os dias, essa sim é minha motivação e projeto “de vida”. Meu projeto hoje é na Filosofia. Estou buscando recursos para apresentar a Süssie em escolas, mas com viés da filosofia da ciência, para que outras crianças e jovens nunca deixem de ser curiosos e sejam o que desejarem ser, pois não há limites, por mais que pensemos que sim. Somos maiores que qualquer tempestade.

Se alguém que estiver lendo este texto quiser saber mais sobre ou souber onde posso conversar com pequenos que precisam de atenção, por favor, entre em contato. A ideia é germinar. O mundo precisa destes pequenos sadios de pensamentos e plenos de esperança.

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FTC: Uma frase que vc carrega para a vida;

“Golpe a golpe, passo a passo. Caminhante, não há caminho. O caminho se faz ao andar”, que li na adolescência num Paulo Coelho, acho que em Maktub, mas que ficou pra sempre.

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FTC: 5 coisas que não consegue viver sem?

1- fazer/pensar algo novo;

2- um detalhe surpreendente nas roupas;

3- rabiscar;

4- bicicleta [ minha personificação da necessidade de liberdade ];

5- mochila com meu pequeno universo-síntese.

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Os postais vendidos na loja da Tati:

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Vale a pena o click: Blog. No Instagram: @eterea_world. No Facebook:/etereadesign. Loja online: @tatieterea e tatieterea (internacional). Tati também já apareceu por aqui, contando curiosidades sobre sua viagem para Hong Kong.

Por Carol T. Moré

Carol T. Moré é editora do FTC. Internet, café, todo tipo de arte, viagens e pequenos detalhes da vida a fazem feliz. Acredita que boas histórias e inspirações transformadas em pixels conectam pessoas.