Dalí criou 60.000 azulejos para uma piscina (que nunca existiu). Agora, seu comprador os colocou à venda

Dalí criou 60.000 azulejos para uma piscina (que nunca existiu). Agora, seu comprador os colocou à venda

A melhor piscina do mundo (que nunca existiu) foi projetada pelo surrealista Salvador Dalí, e supostamente encomendada por um membro do regime ditador espanhol de Francisco Franco

Essa é a história de um advogado alemão chamado Peter Ackermann. Em 1976, ele acabou por comprar 60 mil azulejos pintados por Salvador Dalí. Sim, Dalí, o pintor e escultor espanhol famoso pelas obras surrealistas e pelo bigode inconfundível.

O advogado não sabia o que fazer com as peças, segundo o site Artsy, pelo menos, até muito recentemente. Ele adquiriu as cerâmicas depois que um cliente arranjou um encontro do advogado com o artista, em Paris. Peter acabou trabalhando também para o surrealista, na época, já reconhecido no mundo todo.

Foto de Salvador Dalí e Peter Ackermann. Cortesia de Peter Ackermann

As cerâmicas, que vieram parar na mão do advogado porque, a princípio, um dos seus clientes não tinha como pagar suas despesas para com o advogado, retratam estrelas do mar, sol e pássaros, dentre outras ilustrações.

Elas foram pintadas em Onda, na Espanha, na década de 50 e mostram bastante o estilo catalão. Dizem as más línguas que foram comissionadas por um membro do regime do antigo ditador Francisco Franco para pertencerem à uma piscina. O conjunto contava com 100 mil peças de vinte centímetros, cada. Hoje, sobraram apenas 60 mil cerâmicas, todas na coleção de Ackermann.

LA SUITE CATALANE 

Os azulejos de Dalí exibem imagens de diferentes elementos que o artista associou à beira-mar da Catalunha. As cores vibrantes brilhariam sob a superfície da água sob a forte luz solar do Mediterrâneo. 

Eles vêm em conjuntos de seis, medindo 20 cm quadrados e são intitulados “La Suite Catalane”, referindo-se à região da Espanha de onde o artista veio. Salvador Dalí, Le Baiser de Feu, 1954. Cortesia de Peter Ackermann

Os 60.000 azulejos pesam cerca de 44 toneladas e foram originalmente mantidos em Zurique até que Ackermann os transferiu para Berlim. Ackermann estima que gastou uma quantia “séria de sete dígitos” armazenando e movendo as peças ao longo dos anos.

Peter, agora já com 80 anos, decidiu vender as valiosas cerâmicas recentemente, por uma boa causa: ajudar a instituição Kreuzberger Kinderstiftung, de crianças carentes. Ele acredita que somente alguém maluco (e rico) ficaria com a coleção toda, ou as 60 mil peças.

Salvador Dalí, Le Soleil Végéta, 1954. Cortesia de Peter Ackermann

Salvador Dalí, L’Étoile de Mer, 1954. Cortesia de Peter Ackermann

As outras 40.000 peças originais foram vendidas em leilões privados ao longo dos anos e, de acordo com a pesquisa de Ackermann, eles conseguiram até US $ 2.300 por um conjunto de seis e mais de € 500 por apenas um.

Mesmo assim, Peter não concorda que os azulejos de Salvador Dali deveriam ser partes de uma piscina: “Cada uma dessas peças bonitas chama a atenção”, observa ele. “Elas são muito agradáveis ​​de serem exibidas em uma superfície grande – não dentro de uma piscina.”

Salvador Dalí, Les Fléchettes, 1954. Cortesia de Peter Ackermann

A PISCINA DE DALI 

Contam algumas histórias que embora os materiais estivessem prontos para o uso, a piscina em si, infelizmente, nunca foi construída. Suspeita-se que quem encomendou fosse Eugeni d’Ors, apoiador do ditador Franco, e muitas vezes encarregado de supervisionar as comissões artísticas do governo espanhol.

Dalí e d’Ors se conheciam há muitos anos. E o motivo da piscina nunca ter ficado pronta é que d’Ors teria morrido em 1954, provavelmente na mesma época em que as peças foram concluídas

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