Por aqui, a gente já falou bastante sobre letterings e projetos tipográficos. Teve a lista um e dois dos designers brasileiros que trabalham com isso e que fez bastante sucesso, e até explicamos as principais diferenças entre caligrafia, lettering, handlettering e tipografia.
Quer relembrar? Enquanto a caligrafia é um tipo de arte visual, o escrever à mão e dar forma aos sinais de uma maneira harmoniosa, expressiva e habilidosa, tornando qualquer trabalho mais artesanal e exclusivo, o lettering é o desenho de letras e palavras com um propósito, podendo ser feito com a própria caligrafia, desenho à mão ou tipografia digital.
Tem também o lettering feito à mão que é chamado de handlettering. Já a tipografia, está relacionada aos tipos de letras (fontes) que já conhecemos e também a criação de novas letras, englobando a organização, estilo e aparência.
Ao falar nesses assuntos, nada melhor do que entrevistar um ótimo profissional que nos ajude com algumas dicas práticas. Foi aí que conversamos com Pedro Marques, publicitário, calígrafo e diretor de arte, que tem um trabalho muito bacana nessa área.
Foi em 2010 que Pedro teve a oportunidade de morar em Barcelona, onde fez um curso de design. Um dos professores gostou bastante do seu trabalho e o chamou pra fazer um estágio na agência em que ele era um dos Diretores de Criação: a TiempoBBDO. Ele passou 3 meses nesse estágio, onde conheceu e trabalhou com diversos profissionais renomados. Uma delas foi Queralt Antu, que é designer, caligrafa, diretora de cinema e outras cositas más.
“Ficamos amigos e quando a vi caligrafando algo pela primeira vez, fiquei em êxtase, hipnotizado. Até então meu contato com caligrafia e tipografia havia sido em apenas uma cadeira na faculdade (bem por cima mesmo), apesar de saber da importância e a tipografia sempre ter chamado minha atenção. Mas segurar uma pena ou compreender como as formas das letras acontecem, nunca havia estudado isso.”
“Colei nela, pedi que me ensinasse e ela sugeriu que comprasse o livro que ela havia publicado “Todo sobre la caligrafia”. Para mim foi minha bíblia e o grande pontapé inicial para essa paixão. Comprei também um kit básico de caligrafia e comecei a treinar por minha conta mesmo. De lá pra cá, foram 3 workshops rápidos, de final de semana e muitas, mas muiiitas horas de treino. Muita observação aos detalhes. Muitos livros lidos.
Continuei sendo diretor de arte, mas sempre com essa paixão pela caligrafia crescendo diariamente. Em outubro de 2015 saí do emprego e decidi viver somente da caligrafia. Fiz uma viagem de 8 meses pela Ásia e estacionei agora na Nova Zelândia, onde pretendo ficar aqui por 1 ano.”
FTC: Há quanto tempo cria e quais materiais utiliza?
Acho que desde o final de 2010, quando iniciei com a caligrafia e os treinos. Mas, pelo que me recordo, o primeiro trabalho em que recebi por isso foi no começo de 2013, acredito. Costumo trabalhar muito com brushpens (minhas preferida é uma baratinha da Koi), pincéis de diferentes pontas, tamanhos e tipos de cerda.
Atualmente estou focando muito meus treinos e estudos em misturar aquarela com caligrafia. O resultado geralmente me agrada muito e sou apaixonado pela delicadeza tão característica da aquarela.
FTC: Qual as influências e referências que te inspiram nos seus trabalhos?
Varia muito qual estilo estou procurando… mas, dentro da caligrafia como um todo, posso citar Gabriel Meave, Luca Barcellona, Cláudio Gil, Jackson Alves; quando penso em lettering, Martina Flor, Tyrsa e Marina Chaccur; para estilo brush ou algo mais livre e gestual Fabio Maca, Joluvian e David Milan são quem geralmente sempre aprecio os trabalhos.
Isso sem contar minha maior referência em logos: Sergey Shapiro. Finalizando, quando quero babar em algo mais “artístico”: Pokras Lampas.
Pedro então nos dá 5 dicas, perfeitas para quem quer começar a treinar/aprender handlettering e quem sabe, trabalhar com isso:
Poderia resumir todas as 5 dicas em apenas uma: treine. Treine muito. Treine até o punho cansar, o olho coçar de cansaço. Não tem segredo ou caminho fácil. Fazer workshops é importante, mas se não treinar em casa é dinheiro jogado fora. Mas, se é para enumerar mais algumas dicas, podemos dizer:
1 – Observe os detalhes: veja como as letras são formadas, que tipo de ferramenta levou para aquele traço ou àquela textura;
2 – Assista vídeos de grandes calígrafos fazendo ao vivo. Tem vários no youtube e ajuda pra caramba vê-los em ação;
3 – Não desanime com os resultados, uma hora sai algo que você vai achar legal e ficar orgulhosinho, hehehe;
4 – Não caia naquela de “Ah! Mas eu não tenho a ferramenta X pra fazer”. Em grande parte das vezes que eu me peguei pensando isso e finalmente comprava a bendita da ferramenta, adivinha? Não era a ferramenta que fazia mágica. Descobri que não precisava de uma mega-ferramenta, o que faltava era treino e dedicação;
5 – Valorize seu trabalho. Se vai fazer algo para alguém, cobre. Nem que seja um valor simbólico, apenas para pagar o material. Ou então cobre em cerveja, ou a pessoa te convida para um jantar, um cinema, sei lá, mas não dê de graça o que para você exige horas de dedicação, material (que é caro), investimento em cursos.
Esses são alguns dos incríveis trabalhos do profissional:
Ótimas dicas, não? Acompanhe Pedro Marques em seu site, Instagram e no Facebook.