Sheroanawe Hakihiiwe
Art Attack

Artista yanomami venezuelano Sheroanawe Hakihiiwe resgata memórias ancestrais de seu povo

A memória oral, a cosmogonia e as tradições ancestrais do povo yanomami são traduzidas nas obras de Sheroanawe Hakihiiwe;

Sheroanawe Hakihiiwe (Sheroana, Alto Orinoco, Amazônia venezuelana, 1971) é um artista yanomami que produz desenhos, monotipos e pinturas. Hakihiiwe começou a produzir na década de 1990, depois de seu encontro com a artista mexicana Laura Anderson Barbata. Juntos, desenvolveram uma técnica de produção de papel com fibras vegetais nativas – material que utiliza como suporte. Desde então, passou a desenvolver desenhos mínimos e delicados, com padrões e símbolos coloridos e texturizados sobre a vasta e intensa relação que sua comunidade tem com a paisagem.

“O trabalho que faço nestes papéis é próximo de todo o universo que conheço com a uriji [floresta], que vejo quando ando por ela acompanhado das pessoas da comunidade e da família.Também conheço os animais e as plantas, seus rastros e como se movem na floresta. O shapori [xamã] fala comigo e me conta sobre as coisas, animais falam por meio dos xamãs, os espíritos nos ajudam”, conta Sheroanawe Hakihiiwe.

O universo simbólico de Hakihiiwe está diretamente relacionado ao sentido de sua produção. Linhas retas, paralelas, curvas, pontilhadas, arcos, círculos, triângulos, grades, teias e anéis evocam os insetos, os animais, os rios, as plantas e os espíritos da floresta. Em diversos desenhos e pinturas, o artista usa tintas vegetais fabricadas artesanalmente e extraídas de folhas, frutas, animais e madeiras.

As obras materializam memórias e tradições de sua terra. Para que não se percam, para que não tornem invisíveis todos esses conhecimentos, Sheroanawe resgata a natureza das crenças espirituais e as práticas culturais e sociais de seu povo; busca preservar a representação do imaginário yanomami e da cosmogonia. As relações, leituras, relatos, visões, percepções, registros, observações, sonhos, tecnologia, natureza e cotidiano fazem parte de suas histórias.

Huwe moshi 26 (Cobra-coral 26), 2018. Acrílica sobre papel de cana-de-açúcar. Coleção Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo/Rio de Janeiro, Brasil. Imagem: Eduardo Ortega;

Hoje, em museus e galerias do mundo todo, Sheroanawe Hakihiiw tornou-se um dos maiores expoentes da arte contemporânea venezuelana e indígena. Em 2019 o Museu Britânico adquiriu a obra Shitikari, como uma peça que desafia as representações tradicionais da América Latina; em 2022, apresentou um conjunto de 15 obras em papel de amoreira e cana revestido na 59ª Bienal de Veneza; o Museu de Arte Moderna (MoMA) também comprou 8 de suas peças. 

MASP apresenta exposição do artista 

Agora, as obras de Sheroanawe ocupam até 24 de setembro de 2023, a galeria do 1o subsolo do MASP. A mostra apresenta uma pequena parte do universo produzido sobre os papéis artesanais que usam fibras nativas como cana, algodão, amoreira, banana e milho.

‘Parimi Nahi’ obra para exposição no Centro de Arte Los Galapones, Caracas, Venezuela;

Uma exposição indígena, no MASP, significa apresentar ao público histórias de luta, sobrevivência e resistência, mas também de beleza, diversidade e criação, atentando para a responsabilidade, para a proteção, para os cuidados coletivos, para o pensamento crítico e preservação dos povos originários, seus conhecimentos ancestrais e pluralidades de suas culturas e territórios.

Pisha hena (Folha), 2021. Monotipia sobre papel de cana-de-açúcar. Coleção Galería ABRA, Caracas, Venezuela. Imagem: María Teresa Hamon;
Thari keke (Escudo de proteção contra espírito), 2018;

Os povos Yanomami

Os direitos dos povos Yanomami habitantes do território venezuelano foram reconhecidos pela legislação local em 1999, de modo semelhante ao que é garantido pela Constituição brasileira no que se refere ao direito à diferença, ou seja: sua organização social, política e econômica, bem como suas culturas e espiritualidades, línguas e territórios.

Segundo Hakihiiwe, esse reconhecimento não impede, entretanto, a existência de ameaças reais e cotidianas. O artista relata a tristeza que sente ao ver o rio Orinoco poluído, impedindo que as crianças possam brincar e se banhar nele. Ele também relata a destruição causada por não indígenas e que já levou à morte e ao desaparecimento de duas comunidades inteiras: “Não estamos muito bem agora”.

Conheça também o trabalho dos artistas indígenas brasileiros Jaider Esbell, da etnia Macuxi, e Daiara Tukano, da etnia Tukano.

Sheroanawe Hakihiiwe para Marlborough New York;

Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós

Sheroanawe Hakihiiwe: tudo isso somos nós integra a programação do MASP dedicada às Histórias indígenas. Este ano a programação também inclui mostras de Carmézia Emiliano, MAHKU, Paul Gauguin, Melissa Cody, além do comodato MASP Landmann de cerâmicas e metais pré-colombianos e a grande coletiva Histórias indígenas.

Vai lá: MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – 1o subsolo (galeria). Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista, São Paulo, SP.

Agendamento on-line por este link. Até 24.09.2023.