Art Attack

Artista Vanessa Rosa e indígena Same Putumi criam belas projeções Huni Kuin unindo tecnologia e arte ancestral

Além de divulgar a arte ancestral, o projeto de Vanessa Rosa com a tribo tem o intuito de chamar atenção para a defesa dos povos indígenas

Os povos indígenas representam grande parte da ancestralidade e sabedoria brasileiras. Sua cultura rica é motivo de fascínio para estudiosos tanto daqui quanto de fora do país. O chef Alex Atala, por exemplo, é conhecido, entre outras coisas, pelo seu Instituto ATÁ e a valorização de produtos brasileiros, muitas vezes cultivados e disseminados por tribos indígenas.

Como forma de valorizar todo o conhecimento desses povos, a artista carioca Vanessa Rosa lançou um belo trabalho em colaboração com a tribo Huni Kuin, que aborda a existência de padrões característicos entre os indígenas. Vanessa se uniu à indígena Same Putumi para realizar um incrível projeto artístico que une tecnologia e arte ancestral.

KATXANAWA

As duas se conheceram por meio de amigos em comum em um evento em São Paulo no ano de 2018. O encontro levou a artista ao interior do Acre em busca de conhecer o mundo de Same e de fazer uma imersão cultural. A partir de então, as duas começaram a trabalhar em colaboração em uma parceria artística.

Vanessa Rosa diz que sempre foi apaixonada por padrões gráficos, observando-os em azulejos portugueses, na arte islâmica e na arte chinesa. Ao mesmo tempo, os indígenas Huni Kuin também têm os padrões presentes em várias ocasiões de suas vidas, seja no artesanato, na pintura corporal ou durante os rituais em que tomam ayahuasca. 

No intuito de unir essas duas artistas e sua paixão por padrões, nasceu o vídeo Katxanawa. O nome faz referência a uma canção tradicional Huni Kuin que expressa o desejo de abundância e sorte para as pessoas.

Os Huni Kuins são um grupo étnico milenar da Amazônia, baseado entre o Brasil e o Peru. 

Por meio do video mapping, uma técnica que consiste na projeção de uma imagem sob superfícies, os padrões característicos Huni Kuin tomaram conta de corpos e folhas. O resultado é um lindo jogo de imagens com o canto de Same Putumi ao fundo. “Este vídeo tem como objetivo honrar a cultura Huni Kuin e ajudar a dar visibilidade a um grupo que luta tanto por seus direitos, mas continua muito vulnerável”, diz a artista em seu site.

Além de projetar as animações feitas em linguagem de programação em pessoas e na natureza,Vanessa e Same criaram estênceis cortados a laser, que foram usados para fazer pinturas corporais com jenipapo e também usados em fotografias sob o sol, criando nos corpos o efeito de sombras que imitavam as pinturas padronizadas. 

Confira um pouco mais do processo do trabalho de Vanessa Rosa e Same:

Same Putumi foi criada nos entornos do rio Envira, nas profundezas da Amazônia, em aldeias acessíveis apenas depois de vários dias de barco. Ela é uma das maiores lideranças de sua região, sendo uma pajé e artesã. Desde 2014, Same passa meses a cada ano longe de sua terra natal, procurando explorar cidades e conhecer pessoas que poderiam ajudá- la na busca pelo fortalecimento das culturas indígenas, criando soluções para as atuais vulnerabilidades de seu povo. Entre suas maiores parcerias há a colaboração entre Huni Kuins e Guaranis do Estado de São Paulo. 

Uma floresta criada a partir de padrões seria uma metáfora para a tentativa humana de tornar visível a lógica que compõe a natureza, a lógica que está por baixo de tudo que existe. 

A proposta artística que Same Putumi e Vanessa Rosa desenvolvem tenta superar a noção de que culturas indígenas seriam opostas ao entendimento do mundo segundo as novas tecnologias. Pelo contrário, as culturas ancestrais ainda têm muito a oferecer em termos de sistema de conhecimento e experimentação.

A parceria entre Vanessa Rosa e Same, em colaboração com Verônica Natividade, chegou até São Paulo em uma exposição no MIS – Museu da Imagem e do Som, que aconteceu no começo de 2019. Se você gostou deste trabalho, não deixe de acompanhar a artista por meio do seu site ou perfil no Instagram.