Art Attack

Fotógrafa Elza Cohen cria série de retratos remotos femininos através de videochamadas

Como a pandemia transformou a sua vida? Como está sendo ou foi a sua quarentena? Elza Cohen, que é fotógrafa, filmmaker, criadora de conteúdo e investigadora de música contemporânea, traz retratos e depoimentos de mulheres e meninas que moram em diferentes cidades do Brasil e também em outros países para sua série Foto+Afeto – Perto a Distância.

A ideia é mostrar como elas estão ou estiveram em suas casas isoladas, os pontos positivos e os negativos, ao fotografa-las de forma poética traduzindo em imagem o mood de cada uma nesse momento difícil. Além de proporcionar um espaço de fala e compartilhamento de diferentes percepções, Elza Cohen se coloca como uma criadora de uma memória visual coletiva sobre essa situação que estamos vivendo no mundo atual, a pandemia.

Inicialmente a série está sendo postada em seu instagram, mas posteriormente ela quer editar um livro com os retratos e os depoimentos com as reflexões de cada uma e também fazer uma exposição com o mesmo conteúdo. Um registro histórico.

“Entre conversas e reflexões, antes de começar as shoots, percorro com elas os ambientes da casa em busca de boa luz, bom sinal de internet e escolhemos juntas cantinhos onde mais ficaram durante o isolamento, cenários, texturas e objetos que fazem parte de sua história ou especialmente da sua vida de confinada em casa”, conta Elza.

O momento da sessão de fotos não deixa de ser uma pausa pra que elas olhem um pouco pra si, quebrem a rotina e também ativem a auto estima. A estética #lofi, devido as limitações de fotografar remotamente, fortalece e dá legitimidade ao discurso visual. “A pandemia nos prendeu, mas a arte e a vida não pode parar. Encontrei na fotografia e videografia remota a possibilidade de uma nova forma de continuar criando e trabalhando sem sair de casa. Para mentes criativas e inquietas como eu, isso tem sido a salvação para curar a ansiedade, depressão e o sentimento de paralização”.

Elza conta que escutá-las e ser escutada durante o projeto a tornou muito mais forte, motivada e com a certeza de que ela não estava sozinha. “Tem sido um grande alento essa troca de afeto”. Confira nossa entrevista:

ENTREVISTA COM A FOTÓGRAFA ELZA COHEN

Fernanda Ranieri, diretora de casting, gerenciadora de carreira artística. “Moro sozinha, gosto muito do meu canto e aparentemente não teria muito problema em passar mais tempo curtindo essa dinâmica. Pensei que era hora de me dedicar ao violão, ler mais, dançar sozinha na sala, cozinhar e… bom, fiz isso durante muitos dias, semanas, mas a rotina cansa uma sagitariana e aí dei boas vindas as oscilações de humor e ao ‘novo normal'”. – Veja texto e todas as fotos de Fernanda aqui

FTC: Qual foi seu momento “a-ha”, seu estalo, para se interessar por fotografia como profissão? 

A fotografia sempre esteve presente na minha vida em vários momentos. Quando eu era criança, já fotografava sem câmera, eu observada as coisas ao meu redor e montava cenas, paletas de cores e enquadramentos imaginários e guardava só pra mim na minha memória. Obcecada por filmes desde cedo, sempre que assistia algo (e até hoje é assim rs), a fotografia era (é) o que mais me impactava, dissecava cena a cena tentando imaginar como foi feito a luz, efeitos. Cresci sonhando em ser cineasta rs. Até que fui morar no RJ e fazia freelas de modelo por um tempo quando era muito jovem e trabalhei com importantes fotógrafos. Ficava admirada com o trabalho deles e aquelas câmeras poderosas e muitas vezes metia o dedo na direção dando opinião, e era repreendida, claro.

Ah! era metida a fotografar todo rolê que gostava,  amig@s e família com aquelas câmeras descartáveis de filme e gastava uma $$$ revelando e não saia nada muito bom, ficava meio trash, mas as pessoas gostavam….achavam diferente o meu olhar.

Outro momento foi quando fui morar em São Paulo (eu morava no RJ), fiquei fascinada pela diversidade de estilos e rostos nas ruas de SP, comprei uma câmera semi profissional e comecei a fotografar o street style, cenas, retratos de pessoas desconhecidas, shows na rua, no metrô e uma revista impressa de Milão chamada Street and People viu as fotos nas minhas redes sociais e me convidou pra colaborar fotografando o estilo das pessoas nas ruas de SP.

A partir daí começaram brotar clientes pedindo orçamento e curadores me chamando para exposições coletivas. Foi nesse ponto que comecei a trabalhar com isso profissionalmente. Os convites surgiram naturalmente pra cobrir shows e lookbook de marcas de moda e exposições coletivas, eu comprei um equipamento profissional e mergulhei!

Ana Surani, sócia da @conteudomusical. – “Ouvi de uma desconhecida uma frase que me fez muito sentido. ‘Se a gente não aprendeu nada com esta pandemia não vai aprender jamais!’ e tento me repetir esta frase cada vez q a angústia bate…o mundo realmente não vai ser o mesmo…e espero que a gente consiga muda-lo pra melhor…é o q nos resta.”  – Veja texto e todas as fotos de Ana aqui

FTC: Nesta pandemia, você criou um projeto bem interessante que foi o #FotoEAfeto. Pode contar de onde surgiu a ideia? 

A ideia da série #FotoEAfeto—Perto a Distância, surgiu assim que começou o isolamento social (quarentena), em março de 2020, como forma de me manter criativa e positiva, uma maneira de me conectar com minhas amigas e mulheres que colaboro ou colaborei ao longo da vida e admiro, ter certeza de que todas estavam bem. E também porque afinal o mundo ficou diferente de uma hora pra outra e eu tinha que re-inventar ou inventar um jeito novo de continuar trabalhando e criando. Isso foi o que me salvou do tédio e ansiedade. Só que no meio desse processo, acidentalmente derrubei uma jarra de água no meu macbook e ele morreu afogado literalmente rs….não teve concerto.

Entrei em desespero já que todos os jobs tiveram que ser cancelados e sem renda prevista, apenas com uma pequena reserva pra pagar os próximos boletos, como compraria um novo computador pra editar os meus trabalhos remotos? Meu mundo desabou! Uma amiga deu a ideia de fazer um crowdfunding, fiz e deu certo. Muitos amigos e seguidores das minhas redes colaboraram e eu rapidamente comprei um novo macbook e pude dar continuidade a esse projeto afetivo que foi evoluindo e ganhando apoio. A fotografia remota salvou a minha vida! A fotografia além de ser meu trabalho, minha arte, é também o ar que respiro.

Vanessa Ferraz Amaral, atriz e apresentadora. “Antes da pandemia, posso dizer que já me via mais reclusa em casa, por opção mesmo, por viver cada dia em um lugar, trabalhando e estudando, quando eu podia estar na minha casa, era essa a minha escolha”. Veja texto e todas as fotos de Vanessa aqui

FTC: Alguma foto te tocou em particular?  

Pensei, pensei e cheguei a conclusão de que cada foto me tocou de um jeito diferente, cada uma é uma, única. Todas mostram positividade, coragem e superação do seu jeito único. Vejo um pouco de mim em pequenos detalhes de cada uma.

FTC: Existe um tema geral que você aborda? Quais suas inspirações? 

Minha fotografia é muito livre, não abordo um tema especifico fechado, apenas deixo a minha consciência aberta e os temas surgem naturalmente. Onde quer que eu esteja, estou observando e absorvendo a energia e as emoções de tudo ao meu redor, mas atualmente estou focada no acolhimento feminino, comportamento, diversidade, questões relacionadas a temas contemporâneos que afetam a vida humana.

Inspiração? São infinitas, vou mencionar algumas como: o cinema, a natureza, o cotidiano das cidades, as pessoas, a música, as pinturas impressionistas (quando penso na paleta de cores).

Lari Umeno, artista. “Uma artista viajante e curiosa, residente do mundão desde mil 900 e bolinha. Em tempos de 40tena, a Internet permitiu muitas viagens sem sair de casa. No mundo offline, pude reconectar-me comigo em elevadas sintonias. Sentir, compreender, perdoar, agradecer, transformar. Essas conexões foram vitais para que minha mente criativa e questionadora permanecesse saudável, na mesma medida em que cuido da saúde física”. – Veja texto e todas as fotos de Lari aqui.

FTC: Hoje, como classificaria seu trabalho? 

Na real eu não gosto muito de classificar o meu trabalho, prefiro que as pessoas o classifiquem, porque eu mesma me auto-classificar pode além de soar pretensioso, me limitar, e eu gosto dessa liberdade que tenho de fotografar o que eu quero, o que gosto, o que sinto. Posso adiantar que o meu trabalho é uma mistura de documentário com arte contemporânea.

FTC: O que tem lido, ouvido, visto, quais são os artista preferidos no momento?

O que eu tenho Ouvido – Assim Tocam os Meus Tambores de Marcelo D2, Hot e Oreia (Crianças Selvagens), Brisa Flow, Stella Jang (Colors), Tuyo ( Sonho da Lay), Serena Assumpcao, Xenia França, BahianaSystem, Wizkid ( No stress), Al-Qasar (Miraj), Luedji Luna, Anoushka Shankar, Sarathy Korwar (Eyes Closed)…. e muita música calma de meditação.

Tenho frequentado assiduamente as festas online e festivais nas plataformas de streaming. Dancei sozinha na sala de casa nas festas da twitch – fui do “Baile do Ganja” do dj e produtor Ganjaman (prod. Criolo), djs Neps, Uh!Manas (som comandado por mulheres), a festas eletrônicas e lives de sons mais relax.

O que eu tenho Lido: Nessa quarentena eu li muito e-book no Amazon pelo Kindle: Mulheres, raça e classe, de Angela DavisOutros Jeitos de Usar a Boca e O Que o Sol Faz Com as Flores de Rupi Kaur, Guerreira Invisível de Helena Soares Aphonso, Camille Claudel, uma Mulher, No Women no Cry – Minha Vida com Marley de Rita Marley.

O que tenho Visto: Nessa quarentena vi muitos filmes, séries e documentários independentes: Strasbourg 1518 de Director: Jonathan Glazer’,,   Olla dirigido por Ariane Labed, estrelado por Romanna Lobach, Women’ s Tales série de curtas da Miu Miu dirigida por mulheres cineastas  que abordam a feminilidade e a vaidade no século 21, e essa série incrivel ” I May Destroy You”Homemade (Netflix), série de curtas feitos durante a quarentena. Perdi a conta rs!

Bianca Jhordão, vocalista, guitarrista e compositora da banda Leela. “No início fiquei assustada com a pandemia, shows desmarcados, filho em casa sem aula e a angústia do confinamento num apartamento pequeno em SP. Para não sucumbir à ansiedade trazida por essa situação, me empenhei em trabalhos criativos e realizações possíveis dentro do meu projeto artístico musical. Assim, comecei a editar videoclipes da minha banda, organizando também registros e gravações para lançamentos inéditos do Leela”. – Veja texto e todas as fotos de Bianca aqui

FTC: E agora, o que vem pela frente?

Difícil imaginar, prefiro viver o momento presente e quando esse futuro chegar estar pronta pra desafia-lo com uma nova consciência. Mas, com certeza menos será mais em todos os sentidos!

Veja mais trabalhos de Elza Cohen em seu site e acompanhe a série #PertoaDistancia: #fotoEafeto em seu Instagram.